Opinião

Acabar com o MinC – o primeiro “tiro no pé”

18/05/2016

A diluição do MinC num Ministério da Educação e Cultura revelou, a par das intenções neo-liberais de Temer, a incapacidade de compreender a profundidade da consigna “Brasil Pátria Educadora”.

Por Zillah Branco e Alexandre Weffort

Temer entregou as duas áreas mais sensíveis da governação, no que respeita à relação direta com as camadas intelectuais e artísticas a personagem sem currículo e mérito consolidado em qualquer delas, a Cultura e a Educação, sendo que esta mobiliza diariamente centenas de milhares de educadores e milhões de alunos nos mais diversos níveis de formação, enquanto Artistas e Criadores Culturais são, por inerência da função, produtores de movimentação quotidiana de vastos públicos.

No imediato e a longo prazo, são áreas promotoras da emancipação humana e de plena dedicação: Educação e Cultura são áreas de paixão. Quem nelas trabalha e a elas se entrega sabe que a importância social do seu trabalho não se mede na expressão imediata, contábil. Mas sabe que é pela via da Educação e da Cultura que se formam consciências e se reforçam vontades.

Estas áreas são, contudo, extremamente exigentes em termos políticos: exigem capacidade de planificação a longuíssimo prazo, capacidade de entendimento da diversidade, da diferença, da sensibilidade e da atenção subtil. São áreas que promovem a formação integral do indivíduo – para a expressão usada pelo grande pensador e matemático português Bento de Jesus Caraça – e o crescimento harmonioso da sociedade. São, por isso mesmo, áreas de permanente combate.

Em Portugal, pudemos observar em certo momento o mesmo descuido político hoje revelado por Temer. Um governante, à época encarregue da pasta da Cultura, numa entrevista declarou que gostava especialmente dos “concertos para violino de Chopin”!

Acontece que o grande compositor polonês nunca havia escrito concertos de violino.

Ficou como anedota nacional (foi o seu “tiro no pé”). Talvez aquele governante se tenha confundido com a fotografia e vendo tantos violinos na orquestra e apenas um piano, tenha chegado à brilhante ideia: … se os violinos estão em maior número, o concerto deve ser para eles. Nunca saberemos ao certo o que pensou tal figura. Passe o anedótico da lembrança, para um governante na área da cultura tratou-se, no entanto, de um gesto demonstrativo de indigência cultural. Veremos o que nos reserva o futuro governante na área, no Brasil.

E, o primeiro ato público do recém empossado ministro da educação e cultura demonstrou desde logo que, a Cultura no Brasil será defendida na luta quotidiana e que a consigna “Brasil Pátria Educadora” deixou já marcas que não mais poderão ser ignoradas. Marcas positivas, de emancipação social.

 

 

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