A Revolução Popular é o berço da China moderna

01/10/2015

A China comemora neste Primeiro de Outubro o 66º aniversário do triunfo da Revolução. Sob a liderança do Partido Comunista e de Mao Tsetung, foi proclamada nesta data a República Popular da China. Na história milenar do povo chinês, é um marco decisivo do renascimento nacional, da redenção da grande nação asiática das humilhações sofridas desde que o país se tornou presa das potências imperialistas.

Por José Reinaldo Carvalho*

As classes dirigentes renderam-se aos poderes internacionais no século 19, período de decadência da Dinastia Qin. A China, debilitada e dividida, ficou à mercê do equilíbrio de poder entre as potências de então e das visões estreitas e provincianas dos senhores da guerra locais.

O primeiro ensaio de caráter democrático, libertador e patriótico do povo chinês naquela conjuntura foi a Revolução de 1911, liderada pelo Dr. Sun Yatsen, um patriota precursor dos combates e batalhas que comoveriam e revolveriam a China e o continente asiático durante toda a primeira metade do século 20 e mais além. A Revolução de 1911 tinha um marcado caráter nacional e democrático. Seus limites, porém, não permitiram avançar rumo à verdadeira libertação nacional e social do povo chinês. Já naquela altura, tornara-se patente que a questão nacional não se podia dissociar do anti-imperialismo e da perspectiva socialista. A direção democrática-burguesa não era mais suficiente para abrir uma etapa histórica nova à grande nação asiática.

As condições subjetivas para forjar esta nova vanguarda começaram a concretizar-se com a fundação do Partido Comunista Chinês, em 1º de julho de 1921, que abriu novos horizontes e perspectivas ao desenvolvimento da Revolução.

A história de três décadas incompletas desde a fundação do Partido até a tomada do poder em outubro de 1949 condensa ricos ensinamentos para as atuais gerações de lutadores pela causa do socialismo no mundo. Certamente, é outro o contexto histórico, o que desautoriza as repetições e cópias mecânicas. A própria Revolução Chinesa se desenvolveu e se tornou vitoriosa rejeitando o dogmatismo, o que em si já é uma lição a reter. Uma das grandes virtudes da direção chinesa foi conduzir a Revolução tomando como referência fundamental as peculiaridades nacionais, a particularidade de cada momento e etapa. Uma grande visão estratégica e raras flexibilidade e habilidade táticas garantiram um bom manejo político em cada batalha concreta. A maestria da velha guarda chinesa, com Mao Tsetung à frente, e com dirigentes da envergadura de Deng Xiaoping, Chou Enlai, Liu Xaoxi e outros, fez com que o Partido soubesse alterar as táticas conforme os fluxos e refluxos do processo objetivo, concertar alianças as mais amplas, o que lhe permitiu contornar obstáculos e seguir adiante.

Tal capacidade de direção e de condução política só foi possível pela combinação de duas virtudes essenciais numa vanguarda revolucionária: o conhecimento vasto e profundo da realidade nacional e o domínio do marxismo-leninismo. Foi esta combinação que tornou a direção chinesa vitoriosa. Nisso reside um dos “segredos” da condução política – firme nos princípios sem ser dogmática; ampla e flexível nos métodos e procedimentos táticos sem ser pragmática nem liberal.

Nova etapa histórica

A Revolução representou um salto civilizacional para o povo chinês. O triunfo em 1º de Outubro de 1949 tem por cenário uma China que era uma das sociedades mais pobres e atrasadas do mundo de então, semifeudal, semicolonial, dependente e submissa às potências imperialistas.

A Revolução tornou a China independente, abriu caminho para a construção do socialismo, enfrentou complexos problemas econômicos e sociais e retomou o processo de unificação do país, de construção da China una, indivisível e com plena integridade territorial. Desde a proclamação da república popular, ocorreram lutas políticas de envergadura contra as classes outrora dominantes e os intentos de desestabilização do novo poder – a ditadura da democracia popular – pelo imperialismo. Foi uma evolução sinuosa, marcada por sérios conflitos internos. O país avançou em meio a acertos e erros, a fluxos e refluxos e chega a mais de seis décadas vitorioso, dando passos seguros na construção da nova sociedade e no fortalecimento do poderio nacional.

Luta pela prosperidade

Mais da metade do caminho percorrido corresponde ao período em que se aplica a política da Reforma e Abertura, no quadro da etapa primária do socialismo, iniciada em 1949 e que pode durar até 2050, quando a direção chinesa tem a expectativa de haver construído uma sociedade próspera.

Durante a Reforma e a Abertura, iniciada em 1978, a China aboliu a economia estritamente planificada e adotou os critérios de mercado, racionalizou o setor estatal, diversificou as formas de propriedade, introduziu extensamente o investimento externo direto, incrementou enormemente a produção voltada para as exportações e absorveu tecnologia, cultura e métodos de administração do exterior. Em pouco tempo, observa-se extraordinário desenvolvimento das forças produtivas, um vertiginoso progresso econômico, uma veloz mobilidade social e a acelerada redução da pobreza. A China é hoje uma das principais economias do mundo e em todos os sentidos pode ser chamada de potência emergente.

Por óbvio, a par das enormes conquistas, surgem inevitavelmente sérios problemas e desequilíbrios econômicos, sociais, ambientais, culturais, morais e políticos. A atual direção chinesa tem buscado enfrentar esses problemas, abordando a necessidade do desenvolvimento harmônico, mantendo a consciência de que tal como os problemas não surgem espontaneamente nem da noite para o dia, não serão resolvidos subjetivamente nem com um passe de mágica.

Nova política externa

Irrepetível como toda revolução, a Revolução Chinesa mudou as correlações de forças no mundo. Episódio no século 20 somente comparável à Grande Revolução Socialista de Outubro que a antecedeu na velha Rússia, e que foi a experiência pioneira de triunfo de uma Revolução Socialista, a Revolução Chinesa exerceu grande influência no mundo.

A China de Mao Tsetung estimulou as lutas anticoloniais e anti-imperialistas da segunda metade do século 20, impulsionou movimentos revolucionários e solidarizou-se com todos os povos amantes da paz, da liberdade e da independência. Hoje, num contexto inteiramente distinto, a China continua a dar sua contribuição para a paz, a cooperação e o desenvolvimento no mundo. Como potência emergente, é fator incontornável no atual balanço internacional de forças, aliada estratégica das forças que lutam pela paz, contra o hegemonismo, pela independência e soberania nacionais e pelo socialismo.

A Revolução Chinesa abriu caminho para o exercício de uma nova política externa. Salvaguardar a independência, a soberania e a integridade territorial do país, defender a paz mundial, empenhar-se para a criação de um ambiente internacional propício à construção do socialismo com peculiaridades chinesas e a construção de uma potente nação passaram a estar no centro da nova diplomacia chinesa, não mais de subjugação aos potentados internacionais.

No momento da vitória da Revolução, a China posicionou-se como integrante do campo socialista e da União Soviética. E afirmou o caráter anti-imperialista da sua política externa. O Programa Comum da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês proclamou: “Os princípios da política externa da República Popular da China consistem em salvaguardar a independência, a liberdade e a integridade soberana e territorial do país, apoiar a paz internacional duradoura e a cooperação amistosa entre todos os povos e opor-se à política imperialista de agressão e guerra”.

Mais tarde, em 1982, a Constituição chinesa sistematizou os princípios fundamentais da diplomacia chinesa: “A China, atendo-se firmemente a sua política externa independente, aos cinco princípios de coexistência pacífica – respeito mútuo à soberania e à integridade territorial, não agressão, não intervenção nos assuntos internos de outro, igualdade e soberania recíprocas e coexistência pacífica – desenvolve relações diplomáticas e intercâmbios culturais com os demais países; persiste na luta contra o imperialismo, o hegemonismo e o colonialismo, fortalece sua unidade com os demais povos do mundo, apoia as nações oprimidas e os países em vias de desenvolvimento na sua justa luta pela conquista e a salvaguarda da independência nacional e pelo fomento da economia nacional e trabalha para defender a paz mundial e promover a causa do progresso da humanidade”.

No quadro internacional atual, cheio de complexidades e em meio a importantes transições no ordenamento econômico e político mundial, a China permanece apegada aos princípios da independência, do combate ao hegemonismo, da defesa da paz mundial, do estabelecimento de relações de amizade cooperação com todo os países e povos, da defesa da ONU, do Direito Internacional, do multilateralismo no quadro da globalização econômica e da formação de um ordenamento mundial multipolar.

Se a China vive hoje a fase mais luminosa de sua milenar história, se o país dá passos significativos para vencer definitivamente a pobreza, se alcança indicadores importantes de progresso social, se reúne melhores condições de promover a justiça social, se está dando gigantescos saltos em seu desenvolvimento econômico, consolidando o poderio nacional, fortalecendo sua independência e avançando irreversivelmente na unificação e integridade territorial, tudo isso é fruto das heroicas gestas revolucionárias que culminaram na vitória de 1º de outubro de 1949. É fruto das gigantescas e inesgotáveis energias do povo chinês, mobilizado, organizado e unido sob a direção do Partido Comunista.

Esta China moderna, progressista, avançada, desenvolvida, que constrói a prosperidade de seu povo, que encanta e surpreende a tanta gente no mundo e assombra os inimigos da paz e do progresso social, é resultado da revolução popular e do caminho socialista.

*Jornalista, especialista em Política e Relações Internacionais, membro do Secretariado do Comitê Central do PCdoB e diretor do Cebrapaz.

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