Opinião
A ONU ainda funciona como mediadora nos conflitos internacionais?
Por Zillah Branco (*)
Como é possível que a ONU – criada para manter o mundo em equilíbrio político – não impõe um paradeiro à exibição de poder supranacional liderado pelos Estados Unidos, governo que promove o roubo das riquezas nacionais e a indignidade dos traidores da pátria eleitos por processos fraudulentos com base em fake news e corrupção, aprisionando os heróis dos povos e exterminando a justiça institucionalizada que os povos tinham?
Como os povos – que acreditam no Estado de Direito – podem se defender da sanha criminosa dos bandidos que ocuparam o poder no sistema capitalista?
Vamos continuar a enumerar, impotentes, os continuados atos de prepotência e violência praticados pela elite financeira e militar do sistema, sem receber o apoio solidário da ONU que foi criada e mantida exatamente para equilibrar as forças globais?
De falas mansas e sentimentos generosos o mundo está farto! De debates jurídicos sobre leis que ficam escritas e não são aplicadas estamos todos cansados! Indignados!
É preciso que cada responsável – por organismos internacionais e nacionais – para garantirem a integridade das nações assumam as suas responsabilidades (pessoais e dos cargos que ocupam), ao nível dos heróis que têm enfrentado a opressão e a morte pela defesa da humanidade e dos princípios morais e éticos que ela conserva há pelo menos dois mil anos. Está em causa a Civilização e a Natureza no planeta Terra!
Desliguem os programas da mídia hegemônica, que são novelas para turistas e rentistas dependentes da Bolsa, e acompanhem a realidade através dos canais de informação que revelam os sofrimentos reais dos povos mas também a capacidade de resistência que inspiram apoiados na militância política e social e na solidariedade internacionalista. Todas as associações se manifestam, até os idosos e os adolescentes, dispostos a impedir o avanço dos criminosos que poluem a humanidade e destroem o solo e até o clima, para não falar no patrimônio resultante da criatividade científica, artística e filosófica nos últimos dois mil anos de história.
Quando se vê que o império britânico entrega ilhas inteiras, como forma de transação financeira, para servirem de bases estratégicas no arquipélago de Chagos, situado no oceano Índico (pertencente às Ilhas Maurício que são independentes desde 1968) aos Estados Unidos e expulsa milhares de habitantes nativos para as favelas das grandes cidades; que o fantoche Bolsonaro dá como prenda a Trump a base militar e científica de Alcântara além de prometer as jazidas de petróleo do Brasil; que o jornalista Julian Assange está fechado e ameaçado de prisão ha 7 anos na embaixada do Equador em Londres, por ter divulgado notícias verdadeiras para informar os povos; que a destruição militar de países no oriente médio e norte da África que têm petróleo, produziu milhões de emigrantes que circulam pelos mares para se tornarem mão de obra barata em países organizados; que os povos que enfrentam a miséria para serem independentes sofrem ataques com armas, venenos ou energia cibernética (como ocorreu com a Síria e agora com a Venezuela); e tudo isso é realizado pelo imperialismo norte-americano às claras e com divulgação midiática, com a submissão de escroques de vários países latino-americanos e da Europa rica, além da complacência dos organismos internacionais. Esperam que os humanos que sobreviverem aguardem a proteção divina?
Pergunta ingênua
Coloquei as perguntas que qualquer pessoa indignada com os acontecimentos mundiais poderá fazer por desespero. Já há muitos casos de suicídio ou de refúgio na alienação como recurso para aguentar o absurdo de toda a humanidade depender de facínoras, covardes ou cúmplices corruptos.
Mas, ao analisar a história do imperialismo, que já é antiga e passou pela utilização do fascismo e do nazismo, que foram registados como iniciativas de loucos como Mussolini e Hitler, sem revelar o poder imperial que os utilizou como ponta de lança para quebrar as resistências, que centralizou a política financeira para manipular os rumos do sistema capitalista no mundo, e cautelosamente estimulou a comunicação social para dirigir os interesses das nações e a cultura das populações de modo a se deixarem escravizar pela ambição de poder que tanto enferma os indivíduos como os setores políticos esvaziando-os dos princípios humanistas. Um vasto plano maquiavélico de construção de sociedades onde a ambição de lucro e poder social substituiu a fé no divino. Isto ocorreu nos anos 30 e 40 do século XX.
Foram criados cursos universitários aparentemente abertos para colher todas as idéias e capacidades dos estudantes e pesquisadores de ciência, tecnologia e arte, foram investidos os dólares necessários em bolsas de estudo, equipamentos, publicações de teses e livros de divulgação, foram estimulados todos os conhecimentos – de armas a medicamentos, de filosofia a manuais de treinamento físico e mental, de levantamento das realidades da vida à criação de modas de vestuário e de objetos de consumo, de energias à produção de carros, iluminação pública e doméstica à produção de bombas e misseis, enfim tudo o que se desenvolveu rapidamente no século XX permitindo que fosse atenuada a miséria dos trabalhadores nas cidades e a classe explorada fosse dividida em degraus de desenvolvimento onde vê, no topo o modelo cobiçado de luxo e poder. Restaram os muito pobres que foram considerados “os miseráveis” que por escolha própria ou inércia se conservam como os “indígenas” que devem representar a face folclórica das sociedades organizadas.
E este mito só começou a ser quebrado pela experiência vitoriosa da revolução soviética, e as demais que seguiram o seu exemplo, onde se conservou o respeito pelo humanismo e a ética como parâmetros fundamentais da humanidade.
Para interromper o caminho desvairado de violência e maldades que caracterizaram os governos fascistas que cultivam os dotes psicológicos mais negativos, o imperialismo salvou os sionistas ricos e empreendedores que aceitaram integrar o poder econômico e cultural dos Estados Unidos deixando milhões de judeus e de civis de várias origens e de esquerda serem dizimados nos campos de concentração e nas guerras enfrentadas pelos “aliados” que se viram forçados a pedirem socorro ao exército criado pela União Soviética que venceu militarmente aquele governo cruel e anti-humano no seu território e fora dele até alcançar a vitória esmagando o poder fascista em Berlim. Isto criou um sério problema para o comando imperialista que teve de “engolir” a solidariedade dos defensores de um sistema socialista oposto ao capitalismo de que depende o seu poder.
A divisão da humanidade para facilitar o domínio fascista
Com o ressurgimento da figura fascista criada pelo imperialismo, reascendem os preconceitos que sempre foram utilizados para opor grupos classificados racialmente, ideologicamente ou pelas opções de vida, apregoados fartamente pela mídia bem remunerada. O anti-semitismo só existe insuflado por motivos políticos e mantido pelo Estado de Israel que para este fim foi criado pelos países “aliados” ao império liderado pelos Estados Unidos.
A manutenção dos conceitos de raça pura superior é aplicada apenas pela elite conservadora pois os povos convivem como iguais em todo o mundo no contexto do trabalho e da sobrevivência. Mas, depois que Trump dobrou a espinha dorsal da União Europeia com a questão de abrir embaixadas em Jerusalém para impedir que os Palestinos sejam respeitados, então a mídia francesa promove os baderneiros “coletes amarelos” que detonaram críticas várias a Macron, a antissemitas. E voltam à mitologia do anti-semitismo para dar ao rascismo um papel provocador de conflitos que oculta as razões de exploração dos pobres pelos ricos.
Os protestos de rua estão multiplicados por todos os países contra a política social-democrata imposta pela UE que disfarça a defesa dos bancos com falsos orçamentos para destruir as conquistas dos direitos trabalhistas. Pintando de anti-semitismo os protestos populares serão mais facilmente reprimidos pelos governos já comprometidos com o fascismo coordenado por Trump.
Guerra fria em curso
A marcha do imperialismo para preparar o domínio fascista sob a sua tutela repete a situação vivida no século passado. Em relação à esquerda retomam o anti-comunismo nas formas insidiosas dos preconceitos culturais que a mídia hegemônica introduz nas suas informações, o que muitas vezes é repetido inconscientemente nos canais de internet e mesmo em artigos de autores progressistas. Analisam situações históricas a partir da “simpatia” pelos governantes e caem em julgamentos superficiais acerca dos que defendem territórios ameaçados pelas invasões “pacificadoras” do imperialismo.
É claro que a ONU deveria agir para evitar a catástrofe anunciada! Mas, os seus responsáveis estarão com o “rabo preso”, assim como os da União Europeia, nas tramas do mercado e da política financeira do sistema capitalista em crise?
Poderemos esperar que os princípios humanistas e o conhecimento dos crimes imperdoáveis ocorridos nas Grandes Guerras a partir de um quadro semelhante ao que agora se desenha, darão coragem e dignidade aos atuais responsáveis pelo equilíbrio das forças no mundo?
Até agora, ao que parece, vários governantes no Conselho da Europa assumiram a covardia aos olhos do mundo deixando que o imperialismo destruísse povos e países em benefício do capital que é gerido pela elite financeira; que os Estados Unidos impedissem o cumprimento das regras de mercado mundial com países como Cuba e Venezuela; que fosse imposta através dos seus emissários terroristas a sabotagem nos centros de energia e nomeassem um traidor como “presidente auto-proclamado” para provocar conflitos entre os venezuelanos; apoiaram Netanyhau para vencer as eleições em Israel apesar de acusado internamente por corrupção; façam campanha internacional contra a Síria – que reivindica as colinas do Golã a que tem direito – depois de terem tentado destruir o país por meio de ações terroristas causando milhões de mortos e feridos além de um problema mundial de migração massiva.
O exemplo do Papa Francisco na defesa da Paz e da dignidade das instituições nacionais e internacionais, que tem obtido apoio das demais organizações religiosas e a adesão de milhões de pessoas mesmo sem crenças metafísicas, não é suficiente para despertar o sentido da integridade nos altos escalões da política internacional?
O desenvolvimento cultural dos povos que hoje se solidarizam pelos laços humanistas aceitando as diferenças de opção como características históricas, não promove o respeito pela elite dominante?
O caminho é a resistência de todos os que vivem pelo fortalecimento da humanidade dignificada!
(*) Zillah Branco, cientista social, integra o Conselho do Cebrapaz