Opinião
A justa luta do povo afegão merece apoio (*)
Por Jiang Yuefei (**)
Em abril, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, anunciou a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão para o dia 11 de setembro. Posteriormente, a data foi alterada para o dia 31 de agosto. A situação da segurança no Afeganistão mudou rapidamente na medida em que as tropas militares dos Estados Unidos aceleravam sua retirada e as lutas entre o Talibã e as forças do governo se intensificavam. O porta-voz do Talibã, Zabiullah Mujahid, disse em sua mídia social que na segunda-feira o Talibã havia capturado a cidade de Aybak, capital da província de Samangan. Esta foi a sexta capital provincial tomada pelo Talibã até o dia 1 de maio. No momento, a batalha no Afeganistão é entre as forças do governo e o Talibã, com o último ocupando a maioria do país. A tomada do poder em todo o país não é surpreendente, mas sim algo certo. Sendo o Afeganistão vizinho do nosso país, é lógico e natural que acompanhemos com atenção o seu futuro.
No entanto, no nosso país, há muitas posições equivocadas e ambíguas sobre como olhar para a situação no Afeganistão e como lidar com o futuro do país.
Primeiramente, há uma atitude injusta a respeito do que está acontecendo no Afeganistão. Deve ser reconhecido que, depois da retirada das tropas norte-americanas, inevitavelmente haveria uma luta pelo poder. Nesse sentido, muitos meios de comunicação em nosso país apresentaram relatórios negativos. “A situação no Afeganistão se deteriora rapidamente com o deslocamento de 77.000 famílias”, “A situação do Afeganistão está saindo de controle”; um especialista disse que a tomada de Cabul pelo Talibã alterou dramaticamente a situação atual, que é um Estado fraco. Todas esses relatórios parecem justos, mas refletem, na verdade, posições especiais e são uma tendência negativa por parte da imprensa e especialistas.
Em segundo lugar, há um claro preconceito contra o Talibã. Por exemplo, muitos especialistas fizeram uma interpretação negativa de princípios normativos, nomeadamente, insistindo que “as forças estrangeiras não devem entrar, as nossas mulheres não devem ser tocadas, e nossos recursos não podem ser perdidos”. Alguns especialistas enfatizam a respeito do fato que o Talibã fez coisas como explodir as estátuas dos Budas de Bamiã e sobre o alegado domínio brutal e a extrema restrição das mulheres, de modo que suas visões e posições, claramente, permanecem no âmbito da estigmatização do Talibã. Através dessa propaganda, sejam tais fenômenos reais ou não, mesmo se eles forem verdade, qual o sentido de listar tais fatos? Quais são os seus objetivos finais?
Por último, no que diz respeito ao futuro do Afeganistão, alguns meios de comunicação dizem que se o Talibã tomar o poder, o seu governo deveria fazer uma “aquisição reversa”, pois de outra forma não seria aceito pela comunidade internacional. Falando diretamente, isso significa que, uma vez que o Talibã esteja no poder, este deverá se aliar ao Ocidente, caso contrário não receberá o seu “cartão de identidade”. Essa é a posição da mídia chinesa? Vocês têm algum problema?
A derrota dos Estados Unidos no Afeganistão é uma vitória histórica para seu povo. Se espera agora que o país se livre dos 100 anos de agressão e opressão imperialista e colonial, conquistando assim sua libertação e real independência. Nesse momento crítico, quando a história do Afeganistão está prestes a sofrer um grande ponto de viragem, é hora para corrigirmos o nosso entendimento sobre a questão afegã e mostrar nossa atitude. De outra forma, não conseguiremos fazer com que as pessoas em nosso país entendam corretamente a questão afegã, nem ajudar o novo regime afegão a fazer um correto julgamento sobre a política externa chinesa. Na atual nova era, devemos abandonar velhas ideias deixadas pelo Ocidente sobre a questão do Afeganistão, estabelecendo um novo entendimento a respeito.
A batalha do Talibã e do povo afegão contra a agressão do imperialismo norte-americano ao longo dos últimos 20 anos é uma luta justa, que merece ser firmada e apoiada pela maioria dos países e povos do mundo. Em 2021, a guerra de agressão lançada contra o Afeganistão pelos Estados Unidos, em nome da luta anti-terrorista, falhou em alcançar o real propósito de guerra ao terrorismo. Ao contrário, as forças terroristas internacionais ficaram maiores e mais violentas, enquanto o Afeganistão e o seu povo sofreram incalculáveis perdas. Essa guerra foi um duro golpe ao Afeganistão e à causa da paz mundial, sendo corretamente condenada por todos os países e povos que defendem a justiça no mundo. Os vinte anos de história provaram que a vitória do Talibã em sua oposição à agressão do imperialismo norte-americano, na defesa da soberania e dos interesses nacionais, é uma vitória da justiça.
Os vinte anos de luta do povo afegão contra a agressão do imperialismo foram árduos, seu espírito de luta, corajoso e destemido, é digno de admiração e aprendizado. O heróico povo afegão, bem como os soldados do Talibã são soldados heroicos. Em face da superpotência principal e dos seus Estados clientes, eles não tiveram medo do sacrifício, lutando de maneira indomável, finalmente expulsando os imperialistas norte-americanos de sua casa. Essa foi uma grande vitória para o povo afegão em luta contra as agressões dos últimos 100 anos.
A vitória do Talibã e do povo afegão na luta contra a agressão, uma vez mais, prova que o julgamento feito pelo Presidente Mao Tsé-tung é completamente correto e resiste ao teste da história: o imperialismo norte-americano, e todos os reacionários, são tigres de papel. As causas justas desfrutam de muito apoio, enquanto as injustas não. A justiça triunfará sobre o mal. Enquanto nossa causa for justa e apoiada pela maioria do povo, ela certamente conquistará a vitória final após duras lutas. Frente as profundas transformações jamais vistas em um século e as complexas relações entre China e Estados Unidos, nós devemos aprender e levar adiante o espírito revolucionário de luta, ousando lutar até obtermos a vitória.
Apoiar todos os países e nações oprimidas no mundo em sua luta justa contra a agressão colonial e imperialista, a subversão, opressão e exploração, é uma proposição de longa data e gloriosa tradição do Partido Comunista da China e do governo. O Partido Comunista da China é um partido Marxista e compartilha da sagrada obrigação do internacionalismo proletário. A Nova China é um grande país responsável. O Presidente Mao Tsé-tung uma vez disse que nós devemos fazer mais contribuições para a humanidade. Portanto, nós devemos sempre nos colocar ao lado da justiça internacional, opomo-nos firmemente ao hegemonismo, onde o grande assedia o fraco, mantendo a posição de que todos os países, pequenos ou grandes, fortes ou fracos, são iguais. Nos opomos a toda ordem econômica, política e internacional desigual e irracional, ficando firmemente ao lado de outros países em desenvolvimento, protegendo seus direitos e interesses.
Nós devemos reavaliar o Talibã. Por um longo tempo, os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, tentaram desacreditar ao máximo a organização, o que resultou em muitas pessoas não entenderem a sua real situação e em muitos mal-entendidos. Agora é a hora de falarmos pelo Talibã. Por exemplo, Wang Yi, Ministro das Relações Exteriores da República Popular da China, disse claramente em nome do governo chinês que “o Talibã é uma importante força militar e política.” Isso claramente distingue o Talibã de outras chamadas forças terroristas, permitindo que o Talibã fosse reconhecido por um grande país, criando as condições positivas para o seu retorno a comunidade internacional.
De agora em diante, qualquer que seja o resultado da luta interna no Afeganistão, que tipo de governo será formado, é um assunto interno que nenhum país estrangeiro tem o direito de interferir. Nós devemos nos opor a qualquer tentativa de qualquer país tirar vantagem da retirada dos Estados Unidos para cultivar e expandir o seu próprio poder e interferência bárbara nos assuntos internos do Afeganistão, para que o objetivo de conquistar um Afeganistão liderado e controlado pelo próprio Afeganistão seja alcançado. Em particular, devemos nos opor e condenar que países individuais tirem proveito da oportunidade criada pela guerra e pelo caos para assim conquistarem os seus objetivos ulteriores. Resumindo, dado o fato de que o mundo passa por profundas transformações jamais vistas em um século, o Afeganistão e o seu povo conquistaram uma grande vitória contra a agressão estrangeira e estão prestes a entrar em uma nova era. O Secretário-Geral Xi Jinping disse que a amizade entre os povos é a chave para boas relações entre Estados. O povo chinês e o povo afegão possuem uma longa história de cooperação e intercâmbio. Nós sinceramente parabenizamos o Talibã pela vitória conquistada em sua luta contra a agressão norte-americana e desejamos sinceramente que o Afeganistão, sob a liderança do novo governo, se una e reconstrua sua pátria e viva e trabalhe em paz e felicidade.
* Título original : “Apoiemos firmemente o povo afegão em sua justa luta para resolver de maneira independente os seus assuntos internos”
**Artigo publicado originalmente no blog pessoal do autor no WeChat e reproduzido pelo site marxista chinês Kunlunce 昆仑策.Traduzido para o português por Gabriel Gonçalves Martinez