Conjuntura nacional
A Federação de Partidos é importante fator de união de forças democráticas e populares
Nas condições atuais, a vitória eleitoral das forças democráticas é o passo indispensável para criar as condições políticas visando a avanços posteriores
Por José Reinaldo Carvalho (*) As forças progressistas e de esquerda brasileiras deram nesta semana um grande passo para a unidade política, com reflexos imediatos na campanha eleitoral de 2022 e projeção para o futuro.
É histórica a decisão de constituir a Federação Partidária entre o PT, o PCdoB e o PV. Guardadas as diferenças de épocas, pode representar a formação de um núcleo que dê origem a um movimento semelhante ao da campanha de 1989, quando, na liderança da Frente Brasil Popular, Lula quase chegou lá, ao fim de uma jornada que, se não obteve êxito eleitoral, resultou em impactante vitória política. Aquela campanha abriu caminho para o triunfo de 2002 e os subsequentes.
À Federação Partidária agora criada soma-se uma aliança mais ampla. O PSB e o PSOL, muito embora não tenham ingressado na mesma federação por motivações próprias ligadas aos respectivos planos eleitorais, já anunciaram apoio a Lula, o que significa que a campanha eleitoral vai começar com o impulso da unidade das forças de maior peso na esquerda e centro-esquerda.
Agrega-se a isto um novo fator, que corresponde a um giro ao centro por iniciativa de Lula e do PT, convencidos que estão de que este é o único caminho que pode levar à vitória na eleição de outubro. Daí a opção pela aliança com Geraldo Alckmin, um político conservador e neoliberal formado nos quadros do PSDB e como governador de São Paulo, onde fez uma gestão distante dos interesses nacionais, populares e trabalhistas. É um passivo político e ideológico que somente uma autocrítica na prática por parte de Alckmin, hoje nas hostes do partido socialista, poderá saldar. Em seus primeiros pronunciamentos públicos ao lado de Lula, o ex-governador tem dado demonstrações de que está disposto à convergência, propõe-se a agregar força e a assumir compromissos democráticos, o que inclui não protagonizar nem participar de conspirações golpistas, como fez a nefasta figura de Michel Temer.
O giro ao centro promovido por Lula e o PT tem a ver com a busca de um caminho viável para superar os problemas mais emergentes do país. Deter a caminhada para o fascismo à brasileira, salvar a democracia, oferecer uma saída para a aguda crise social são tarefas gigantescas que a esquerda não poderá enfrentar sozinha.
O golpe de 2016 e a instauração do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, a partir de sua eleição em 2018, levaram o Brasil a um brutal retrocesso político. As conquistas democráticas alcançadas desde a superação da ditadura militar e consagradas na Constituição de 1988, estão ameaçadas. Os avanços sociais alcançados entre 2003 e 2016, durante os governos das forças progressistas (Lula e Dilma), estão todos em liquidação. Nesse quadro, impõe-se a elaboração de um programa mínimo de emergência nacional, para cuja realização serão necessárias, num primeiro momento, alianças mais amplas para gerar uma nova dinâmica política e uma nova correlação de forças. Apesar da dispersão partidária e da crescente oposição ao governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, os setores reacionários da sociedade brasileira formaram uma ampla coalizão de forças antidemocráticas e antinacionais, um bloco político munido de imenso poder político, midiático, militar e apoio internacional. Não será batido facilmente. Este campo de forças está em plena ofensiva para monopolizar o poder e seguir adiante na imposição ao país e ao povo de uma política lesiva aos interesses populares e nacionais. O enfrentamento a essa ofensiva só será possível com a mais ampla unidade e a mobilização do povo brasileiro.
As forças progressistas e de esquerda, com sua visão de longo prazo, podem contribuir muito com o país empenhando-se agora na construção de uma frente em defesa do Brasil, do desenvolvimento nacional e da democracia.
Por óbvio, as tarefas das forças de esquerda e progressistas, mormente aquelas de vocação revolucionária e que têm por missão a realização de transformações de fundo no país, não se restringem a esses objetivos imediatos. Para além do embate meramente eleitoral, o debate programático no âmbito da Federação Partidária, concebida como uma frente em que as forças de esquerda exercerão papel preponderante, poderá dar rica contribuição para equacionar e enfrentar os problemas estruturais da sociedade brasileira. O programa mínimo eleitoral e o programa geral de uma frente partidária e de movimentos sociais podem ser complementares.
A vitória eleitoral, nas condições atuais do Brasil, é o passo indispensável para criar as condições políticas visando a avanços posteriores.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Coimitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB e secretário-geral do Cebrapaz