Movimento Comunista
PCP: “É com profunda convicção de que o socialismo e o comunismo são o futuro da humanidade que continuamos a nossa luta”
No dia do centenário da Revolução Russa, 7 de Novembro, o Partido Comunista Português (PCP) realizou em Lisboa uma magnífica manifestação comemorativa. Leia a íntegra do pronunciamento do secretário-geral do Partido, Jerónimo Sousa.
Hoje é um dia com um simbolismo particular, o dia em que assinalamos os 100 anos da Revolução Socialista de Outubro.
Assinalamos e celebramos, neste preciso dia 7 de Novembro, o primeiro dos dias de uma revolução nascente que vai não só abalar o mundo assente na exploração e na opressão, mas transformá-lo e marcá-lo profundamente, pela força do seu exemplo, das suas realizações revolucionárias e progressistas, da ação coerente e de princípios do novo poder proletário e camponês a favor dos trabalhadores e dos povos.
Assinalamos e saudamos nesse inaugural ato libertador o início de uma nova época histórica que permanece aberta no horizonte da luta dos trabalhadores e dos povos – a época da passagem do capitalismo ao socialismo – e nele a materialização de um milenar sonho de emancipação e de libertação de gerações de explorados e oprimidos!
Assinalamos e celebramos, condensando nesse glorioso 7 de Novembro, a gesta heróica dos que, decidida e conscientemente, se lançaram no empolgante empreendimento da construção de uma sociedade nova – o proletariado russo, sob a direcção do Partido Bolchevique e de Lênin – que, confirmando a perspectiva política e ideológica apontada pela obra teórica de Marx e Engels, se lançou na construção de uma sociedade sem exploradores nem explorados. Mas igualmente celebramos os que lhe deram continuidade, desbravando os caminhos inéditos e nunca antes conhecidos na construção da sociedade nova, assim como todos aqueles que, arrostando sacrifícios imensos os precederam e que, com a sua luta, a sua experiência revolucionária, os seus ensinamentos, mantiveram viva a perspectiva da luta libertadora e emancipadora dos povos.
Essas gerações de explorados e oprimidos que viam, quantas vezes, cair por terra, numa luta desigual, as suas bandeiras, como na Comuna de Paris, para adiante as tornarem a erguer na procura e conquista do futuro. Esse futuro pelo qual continuamos a nossa luta, para lá de todas as vicissitudes, levantando bem alto a grande bandeira que sempre nos guiou e que coloca o socialismo e o comunismo no horizonte da nossa luta.
Neste Centenário afirmamos a consigna “Socialismo, exigência da atualidade e do futuro”.
Relembramos, damos a conhecer e afirmamos a Revolução de Outubro como a realização mais avançada no processo de libertação da Humanidade de todas as formas de exploração e opressão.
Mostramos como a Revolução de Outubro não foi uma aventura, nem obra de aventureiros, como propala a propaganda anticomunista, mas obra dos próprios trabalhadores e do povo soviético que, com a sua luta, abriram os caminhos da sua libertação e com as suas próprias mãos começaram a erguer essa realidade nova, essa terra sem amos e da igualdade, anseio e sonho milenar que a Utopia proclamava e que o Manifesto do Partido Comunista consagrou em projeto político com a superação revolucionária do capitalismo pelo socialismo a ser experienciada e vivida por milhões de seres humanos.
Evidenciamos a importância e o valoroso papel da classe operária e dos trabalhadores, a sua unidade e organização no processo de transformação social e em todas as etapas do processo revolucionário e da construção da sociedade socialista.
Damos, muito justamente, um particular relevo às grandes conquistas e realizações políticas, econômicas, sociais, culturais, científicas e civilizacionais do socialismo na URSS que a propaganda dos defensores da eternização da exploração capitalista omite e desvaloriza.
Mostramos como a Revolução Socialista transformou a velha e atrasada Rússia dos czares, onde persistiam relações feudais, num país altamente desenvolvido, mais industrializado e socialmente mais avançado, provocando efeitos extraordinários à escala planetária.
Mostrou-se como, num curto período de tempo histórico, se alcançou um significativo desenvolvimento industrial e agrícola e se eliminou o desemprego, confirmando a superioridade da propriedade social e da planificação econômica. Se erradicou o analfabetismo e generalizou a escolarização, garantiu e promoveu, pela primeira vez, os direitos das mulheres, das crianças, dos jovens e dos idosos.
Pomos em evidência aquilo que a propaganda imperialista a todo o custo esconde: que foi a pátria dos “sovietes”, o primeiro país do mundo a pôr em prática ou a desenvolver como nenhum outro, direitos sociais fundamentais, como o direito ao trabalho, a jornada máxima de 8 horas de trabalho, as férias pagas, a igualdade de direitos de homens e mulheres na família, na vida e no trabalho, os direitos e proteção da maternidade, o direito à habitação, a assistência médica gratuita, o sistema de segurança social universal e gratuito, e a educação gratuita, se assegurou o acesso à cultura e à prática do desporto.
Sendo que tudo isto foi alcançado pela União Soviética, apesar da intervenção de potências imperialistas, da guerra civil, do bloqueio econômico e da sabotagem e de duas grandes guerras devastadoras.
Mostramos como as transformações e realizações revolucionárias estimularam a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo para que alcançassem importantes conquistas sociais. Mostramos o imenso contributo da URSS e do povo soviético para o avanço da luta emancipadora dos trabalhadores e dos povos, incluindo no apoio à conquista da independência de numerosas nações secularmente submetidas ao jugo colonial e o seu inquestionável papel de força motriz do progresso e da paz a nível mundial.
A Revolução de Outubro está e continua a estar no centro da luta ideológica. Os adversários do socialismo – o grande capital e o imperialismo – continuam a desenvolver uma singular e feroz campanha contra a Revolução de Outubro.
Fazem-no porque sabem que ela foi um acontecimento marcante na história para acabar com a exploração e também com o objetivo de enfraquecer o poder de atração da nova sociedade, de desmoralizar e desmobilizar a luta pela sua concretização.
Fazem-no utilizando todo o seu arsenal de meios e influência porque o que verdadeiramente temem não são as soluções dos que, falando em socialismo, cortejam as Wall Streets e não ousam beliscar a ordem capitalista vigente, mas aqueles que, como o PCP, assumindo os ideais e valores de Outubro, não aceitam o capitalismo como sistema final da história e lutam de forma consequente para pôr termo a relações sociais de produção assentes na exploração do trabalho e dos povos.
E muito menos temem, antes incentivam, os que negando a atualidade da clivagem essencial que permanece na sociedade dos nossos dias, a grande e decisiva opção entre socialismo e capitalismo, se empenham na produção e difusão de falsas dicotomias alternativas empolando variantes secundárias do capitalismo dos nossos dias, classificado e adjetivado de neoliberal versus progressista, cosmopolita versus nacionalista, ultramontano à Trump versus humanista, entre outros exemplos, e que visam encerrar a alternativa e solução dos graves problemas do capitalismo no interior do próprio sistema de exploração que os engendra.
Sabemos que a Revolução de Outubro foi sempre, desde o seu nascimento, objeto das mais insidiosas e odiosas campanhas difamatórias.
Este tempo de passagem do Centenário tem sido pretexto para a difusão em grande escala do mais baixo e vil anticomunismo. O ódio e a difamação não têm limites. Temo-los visto rebuscar na arca das velharias as mais torpes e estafadas mentiras não apenas para denegrir e diabolizar a Revolução de Outubro, mas os comunistas e o seu projeto.
Já não as delirantes construções do tipo que o “Diário de Lisboa” difundia ainda em 1921, onde se escrevia: “Na Rússia as mães já podem casar com os filhos”, porque de tão absurdas e abjetas deixaram de ter eficácia, mas todas aquelas que, tomando novas roupagens, os centros ideológicos e doutrinários da grande burguesia internacional incessantemente renovam, para demonstrar, com o selo de uma falsificada cientificidade, que o socialismo é uma experiência falhada e, sobretudo, que a natureza do projeto comunista é intrinsecamente perverso e anti-democrático.
Nesse afã de deturpação do projecto comunista popularizam teorias onde amalgamam regimes, sistemas, personalidades, práticas e objectivos, num vicioso processo de tentar unir e juntar o que é diferente e foi diferente não só na prática da acção política, mas nos objectivos e projecto.
Passaram a juntar no caldeirão da sua fantasiosa propaganda, equiparando fascismo e comunismo, falsificando a história, fabricando factos e arrolando incomensuráveis e inverosímeis crimes para suscitar a indignação das massas e criminalizar o socialismo e o seu percurso na vida dos povos no século XX e o próprio ideal comunista. Neste processo tratam de igual modo carrasco e vítimas, unindo-os no conceito de totalitarismo fabricado à medida das suas pretensões. Fingem ignorar que fascismo e comunismo são sistemas antagónicos. Que o fascismo – a ditadura terrorista dos monopólios e dos latifundiários em que o Estado é colocado ao serviço de uma escassa minoria – olhava a Revolução de Outubro e o seu Estado ao serviço da maioria do povo como o perigo principal e inimigo principal dos monopólios e da grande burguesia a quem o fascismo servia.
O que a verdadeira história regista não é a cumplicidade, mas heroicidade do povo e dos comunistas soviéticos para travar a barbárie e a catástrofe em que o mundo foi lançado pelo nazi-fascismo, tendo pago pelo seu contributo para a Vitória um custo muito alto: 20 milhões de mortos e um país devastado.
E o que na história não se pode apagar, por muitas operações de maquilhagem realizadas, é a simpatia e a cumplicidade das classes dirigentes das grandes potências capitalistas, perante a ascensão de Hitler e as suas ações belicistas, que a coberto da necessidade de salvar a paz e da política de “amansar a fera”, com o sacrifício de povos e países, alimentavam a esperança de direcionar a bestialidade nazi para “resolver a questão russa”.
No centro da sua ofensiva ideológica tentam a todo custo demonstrar uma incompatibilidade entre a Revolução de Outubro e a democracia, entre o socialismo e democracia, utilizando-a como uma arma de arremesso contra os partidos comunistas e revolucionários. Culpam a Revolução de Outubro de ser a portadora e conter em si os germes de desfigurações, erros e desvios por nós assinalados em congressos, e não escondidos, que conduziram à trágica derrota da URSS.
Mas como temos afirmado não é na Revolução de Outubro – a mais libertadora das revoluções – que se pode encontrar a origem do desaire que representou a destruição do socialismo na URSS, mas num “modelo” de construção do socialismo que, como temos afirmado, acabou por se afastar e contrariar o ideal e o projecto comunistas em questões fundamentais.
Não! O socialismo não é incompatível com a democracia, nem teme a democracia. O socialismo precisa da democracia, da participação consciente dos trabalhadores e do povo para se afirmar e desenvolver. Não há socialismo sem a participação dos trabalhadores e do povo, o seu contributo, o seu empenhamento, a sua decisão, sem uma organização da sociedade com um funcionamento profundamente democrático.
É por isso que no centro do projecto político do PCP e em todas as fases e etapas do processo de desenvolvimento da sociedade portuguesa está a concretização da democracia nas suas vertentes política, económica, social e cultural, no quadro de um sistema político assente na garantia do exercício das liberdades democráticas, incluindo de formação de partidos políticos, o respeito pelas opiniões políticas e crenças religiosas, a realização regular de eleições democráticas. Um sistema político assente num Estado democrático representativo e participado, alicerçado na soberania e independência nacional.
Não! Ao contrário do que afirma a campanha das forças do retrocesso político, económico e social, o que os povos devem ter fundadas razões para temer e de forma cada vez mais preocupante e crescente à medida que se aprofunda a crise estrutural do capitalismo, são as práticas e projectos de empobrecimento, amputação e liquidação da democracia dos defensores do sistema de exploração capitalista e o seu processo de globalização de domínio planetário.
O que os povos têm fundadas razões para repudiar e repelir são as suas práticas de exportação da sua “democracia” à bomba dos que falsamente arvorados em seus defensores querem perpetuar o seu domínio e impor pela violência os seus interesses, como a realidade da Líbia à Síria, do Iraque à Palestina, da Ucrânia à Venezuela aí estão a demonstrar. O que os povos devem temer são as artimanhas dos que se especializaram em engenharias eleitorais, para transformar minorias em maiorias, para confiscar e raptar a democracia.
O que os povos devem recear são os projectos daqueles que passaram a teorizar sobre a menoridade das massas para decidir questões complexas do Estado, visando usurpar a decisão soberana dos povos em matérias essenciais.
Esses mesmos que também impõem o pensamento único e a política única na União Europeia, com base em critérios caídos do céu, como no Euro, condicionando qualquer política alternativa.
Daqueles que a crise e a cada dificuldade encontrada para impor a sua vontade ensaiam em fugas em frente à custa da democracia e do direito dos povos a decidir, usurpando crescentes parcelas da sua soberania, centralizando-as em espaços supra-nacionais, longe do seu controlo e da sua decisão.
Esses que continuam a engenhar novos planos para transferir decisões políticas para especialistas e criar novos condicionamentos à decisão soberana dos povos. Sim, não são processos de intenção, são pretensões reais do FMI e da União Europeia.
Hoje estamos a celebrar a Revolução de Outubro, sem a União Soviética e sem o socialismo como sistema mundial e a evolução do mundo mostra quanto negativamente pesa essa ausência na vida dos trabalhadores e dos povos.
O capitalismo, liberto das condicionantes que a existência do socialismo como sistema mundial impunha e funcionando livremente de acordo com as suas regras, não só passou a pôr cada vez mais em causa as liberdades e direitos políticos, como agravou todos os problemas inerentes à sua natureza de sistema explorador, opressor, agressivo e predador estando a conduzir o mundo para barbárie, empurrando o mundo para os perigosos caminhos da confrontação generalizada e da guerra, o que apela ao reforço da luta pela paz e pelo desarmamento.
Duas décadas e meia depois das proclamações vitoriosas de um capitalismo inultrapassável, é o aprofundamento da sua crise estrutural e as suas consequências que pontuam de forma dramática na vida dos povos dos nossos dias.
Elas são iniludíveis na persistente e agressiva escalada do imperialismo, particularmente dos Estados Unidos da América, que a dança das administrações não altera, para impor o seu domínio hegemónico. Na escalada de tensão e provocação contra Estados soberanos, nomeadamente no Leste Europeu, Ásia Central, América Latina, África e Extremo Oriente. Nas agressões militares directas com destruição de países inteiros, em acções de chantagem e ingerência, numa espiral de confrontação e conflitos que, a não ser travada, conduzirá a Humanidade à catástrofe.Na nova corrida armamentista e o salto militarista nos EUA e na União Europeia, e com o envolvimento da NATO em guerras de agressão, que são, a par com as trágicas consequências sociais da ofensiva imperialista, as principais causas do terrorismo e do crescimento de forças xenófobas e racistas.
O balanço destes tempos é brutal e sinistro. Milhões de pessoas, cerca de 1/5 da população mundial, vivem afectados por conflitos. São milhões os deslocados e os refugiados. Morte, miséria, pobreza e fome espelham a catástrofe social da guerra vista cada vez mais como solução e resposta à própria crise do sistema de exploração.
Consequências que se vêem também na arrastada e cada vez mais profunda crise do processo de integração capitalista europeu e na tentativa de reactivação do eixo franco-alemão e do aprofundamento dos três pilares da União Europeia – o federalismo, o militarismo e o neoliberalismo -, a coberto do chamado “Futuro da Europa”.
Mas igualmente na grande regressão que há muito está em marcha, persiste e se agrava com a ofensiva do grande capital contra os direitos laborais e sociais, os serviços públicos, a soberania dos povos.
O proclamado reino da abundância pelo capitalismo globalizado, com a falaciosa prédica da competitividade, da flexibilidade, da desregulação e das reformas estruturais, traduziu-se em novas operações de concentração da riqueza a favor do capital transnacional, no agravamento da exploração, do desemprego, da precariedade, do aumento das injustiças sociais, com brutais custos para os trabalhadores e para os povos.
Toda uma evolução que confirma que o capitalismo não tem soluções para os problemas do mundo contemporâneo, que está por toda a parte em permanente confronto com as necessidades, os interesses, as aspirações dos trabalhadores e dos povos, e é incapaz de ultrapassar as suas contradições. Que o capitalismo não é reformável, humanizável ou regulável!
Sim, o mundo precisa do socialismo! Ele é uma necessidade que emerge com redobrada actualidade na solução dos problemas da humanidade. Uma necessidade que exige ter em conta uma grande diversidade de soluções, etapas e fases da luta revolucionária, certos de que não há “modelos” de revoluções, nem “modelos” de socialismo, como sempre o PCP defendeu e que assume como um objectivo supremo no seu Programa.
Programa que aponta como objectivos fundamentais da revolução socialista em Portugal: a abolição da exploração do homem pelo homem, a criação de uma sociedade sem classes antagónicas inspirada por valores humanistas, a democracia compreendida na complementaridade de todas as suas vertentes, a intervenção permanente e criadora das massas populares em todos os aspectos da vida nacional, a elevação constante do bem-estar material e espiritual dos trabalhadores e do povo, o desaparecimento das discriminações, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, a concretização na vida da igualdade de direitos do homem e da mulher e a inserção da juventude na vida do país, como força social dinâmica e criativa.
Nas condições de Portugal, a sociedade socialista que o PCP aponta ao nosso povo, passa pela etapa que caracterizámos de uma Democracia Avançada, uma etapa que sendo parte integrante da luta pelo socialismo, a sua realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e pela materialização de uma política patriótica e de esquerda que dá corpo a essa construção, num processo que não separa, antes integra de forma coerente o conjunto de objectivos de luta imediatos.
Também em Portugal a alteração da correlação de forças na situação mundial resultante do desaparecimento do socialismo como sistema mundial teve impactos profundamente negativos.
A agenda do capitalismo dominante de liberalização, privatização e financeirização da economia, ampliou e agravou os problemas acumulados de anos de política de direita e de recuperação capitalista e monopolista, de destruição das conquistas de Abril, acelerando a ofensiva de liquidação e privatização dos sectores estratégicos da economia nacional, e a destruição dos principais sectores produtivos nacionais e os direitos laborais e sociais dos trabalhadores e do povo.
Uma política que haveria de acabar por entregar os destinos do País à intervenção estrangeira e à concretização de um pacto ilegítimo entre aqueles que governaram o País em todos esses anos – o PS, PSD e CDS-PP – e uma troika estrangeira composta pelo FMI, União Europeia e BCE com resultados ainda mais ruinosos para o País e para a vida dos portugueses.
As consequências estão hoje patentes e perduram na sociedade portuguesa: regressão acentuada da capacidade produtiva do País; acentuação da sua dependência e da sua economia face aos monopólios e ao capital estrangeiro; uma dívida pública sufocante; regressão drástica das condições de vida dos trabalhadores e do povo, e dos seus direitos; aumento das desigualdades; cavados desequilíbrios regionais; agravadas vulnerabilidades estruturais que se expressam no plano produtivo, alimentar, energético, demográfico, de ordenamento de território, de infraestruturas e serviços públicos, que tornam Portugal numa nação extraordinariamente exposta a alterações adversas do quadro internacional.
Vulnerabilidades que ficaram dramaticamente expostas nos trágicos incêndios florestais que assolaram o País este ano, bem como outros problemas e às quais se junta um conjunto de fortes constrangimentos, nomeadamente resultantes do Euro que condicionam seriamente o desenvolvimento do País.
Agudos problemas, cuja solução reclama para a sua superação uma política patriótica e de esquerda, como a que o PCP defende para o País.
Uma política que tem como elementos decisivos, entre outros: a libertação do País da submissão ao Euro e à União Europeia, a renegociação da dívida pública para libertar recursos; a defesa e promoção da produção nacional e dos sectores produtivos, articulada com a valorização do trabalho e dos trabalhadores, como objecto e condição do desenvolvimento; a recuperação para o sector público dos sectores básicos estratégicos da economia; uma administração e serviços públicos ao serviço do povo e do País.
No seguimento do fim do socialismo na URSS e no seio do alarido apologético do capitalismo em marcha triunfal até à eternidade, alguns decretaram a morte do comunismo e aqui, neste País da Revolução de Abril, o declínio irreversível do PCP e a sua inevitável liquidação.
Tomaram os seus desejos pela realidade. A Marcha triunfal há muito está de regresso a casa com os seus estandartes anunciadores da sua perversa democracia universal, do fim das guerras e das crises arreados, e o PCP continua de pé, a viver e a lutar, não apenas resistindo, mas fazendo acontecer, mantendo no horizonte sempre e sempre o objectivo do socialismo!
Fazendo acontecer, com uma iniciativa e contributo decisivo para derrotar e travar a brutal ofensiva protagonizada pelo governo do PSD/CDS e pelas forças da ingerência estrangeira, pondo termo a quatro ruinosos anos de prática de agravamento da política de exploração dos trabalhadores e do povo e de empobrecimento nacional.
Fazendo acontecer, apontando o caminho que abriu a nova fase da vida política nacional em curso, criando novas e melhores condições para o desenvolvimento da luta, encetando um processo de defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores e do povo e conter o declínio do País.
Dois anos da nova fase da vida política nacional com a destacada intervenção do PCP se são motivo de apreensão e desorientação para os coveiros frustrados do PCP, patente na sua atitude revanchista contra o nosso Partido, são uma vantagem para a vida dos trabalhadores, dos reformados, dos intelectuais e quadros técnicos, dos pequenos e médios empresários, dos agricultores e pescadores, dos jovens e das mulheres que viram, com a acção e a intervenção do PCP, já garantidas algumas respostas aos seus problemas mais urgentes no domínio dos salários, das reformas, dos impostos, dos direitos, no apoio às actividades produtivas e à cultura.
Dois anos a lutar e fazer acontecer, dinamizando e organizando a luta dos trabalhadores e do povo. Essa luta que foi decisiva para travar a ofensiva das forças do retrocesso económico e social e o seu projecto de exploração e empobrecimento nacional. Que é decisiva e determinante para que continue a avançar a reposição e conquista de direitos e a exigência de uma política de desenvolvimento do País. Luta como a que se trava hoje nos mais variados sectores e que tem na grande manifestação da CGTP-IN do próximo dia 18, aqui em Lisboa, mais um momento alto e um ponto de confluência. Luta necessária e decisiva para afirmar a alternativa patriótica e de esquerda, e construir os caminhos do futuro.
Luta que não esquece a lição que a Revolução de Outubro confirmou: – “a emancipação dos trabalhadores tem que ser obra dos próprios trabalhadores”, obra do povo que aspira a viver numa sociedade mais livre e justa.
Sabemos das contradições resultantes da assumida opção do governo do PS de não se libertar dos seus compromissos com os interesses do grande capital e da sua postura de submissão e dependência externa, designadamente às imposições da União Europeia e do Euro.
Sabemos dos esforços das forças mais retrógradas, reaccionárias e do grande capital vêm fazendo, bem visível a pretexto da tragédia dos incêndios, com vista a limitar avanços na reposição e conquista de direitos e na criação de condições para recuperarem espaço perdido nestes dois últimos anos.
Mas é neste quadro de agudas contradições que continuamos e estamos na luta para levar o mais longe possível a defesa, reposição e conquista de direitos e a exigência para fazer avançar o desenvolvimento do País.
Aos sonhadores da morte, aos profetas do declínio irreversível e das inevitabilidades, nós afirmamos que aqui estamos e estaremos ligados ao pulsar da vida, prontos a prosseguir a nossa luta para resolver os problemas nacionais e a elevação das condições de vida do povo e fazer avançar a construção da alternativa patriótica e de esquerda, indispensável para a solução dos problemas do País.
Sim, estamos a celebrar a Revolução de Outubro sem a existência de grande parte da realidade que dela brotou.
Mas tal facto não apaga a sua importância para a luta dos trabalhadores e dos povos que hoje travam em defesa dos seus direitos e da soberania, face à ofensiva do imperialismo e por transformações progressistas e revolucionárias, pelo socialismo.
Não apaga a enriquecedora experiência dessa primeira Revolução Socialista vitoriosa e a demonstração prática da superioridade da nova sociedade.
Não apaga o que representou como força impulsionadora e propulsora de profundas e positivas transformações na vida dos povos e para a paz no mundo.
Não apaga a sua importância nos passos dados e avanços na afirmação de direitos dos trabalhadores e dos povos em todas as latitudes.
Não apaga o valor dessa experiência no longo e acidentado percurso da luta dos trabalhadores e dos povos na procura de um mundo melhor e mais justo, nem os ensinamentos que dela resultam.
Liquidaram a Comuna de Paris, mas não a semente que a produziu e germinou em Outubro. Fracassou um modelo historicamente configurado de construção do socialismo, mas não o ideal e o projecto comunista que continua válido, vivo e com futuro, transportando a semente que a luta dos trabalhadores fará renascer.
Porque, como afirmava Álvaro Cunhal “o nosso ideal corresponde de tal forma às necessidades e aspirações mais profundas do nosso povo ( e dos outros povos), que um dia dele será o futuro”.
Sim, a Revolução de Outubro está aí como experiência concreta, como fonte de inspiração, com os seus valores e ideais afirmando que outro mundo é possível. E por isso a celebramos!
Celebramos na Revolução de Outubro o combate que continua. O combate que precisa de um Partido Comunista forte e permanentemente reforçado, assumindo o seu papel de vanguarda em estreita ligação à classe operária, aos trabalhadores e ao povo. Um Partido munido dos instrumentos teóricos do marxismo-leninismo. Um Partido que age e luta permanente e quotidianamente em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País. Um partido patriótico e internacionalista.
Um Partido Comunista que não abdica de o ser, determinado, combativo, consciente do seu papel, firme no seu ideal e na afirmação do seu projecto transformador e revolucionário, e que tem sempre presente no horizonte da sua acção e intervenção a construção da sociedade nova livre da exploração do homem pelo homem.
É com a profunda convicção de que o socialismo e o comunismo são o futuro da Humanidade que continuamos a nossa luta, reafirmando que fomos, somos e seremos comunistas!
Fonte: www.pcp.pt