GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Jornalista brasileira em Portugal sofre ameaças de morte 

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Extremista de direita promete recompensa para massacre de brasileiros e coloca jornalista Stefani Costa como alvo em nova escalada de violência

Três dias após a prisão do português João Paulo Silva Oliveira, detido e rapidamente libertado depois de oferecer dinheiro pela decapitação de imigrantes, a jornalista brasileira Stefani Costa, residente em Portugal, tornou-se alvo de uma nova ameaça de morte. O caso envolve agora outro militante da extrema direita, identificado como Bruno Silva. Stefani é correspondente do portal brasileiro Opera Mundi e colabora com diversas outras mídias brasileiras.

Silva usou as redes sociais para prometer um apartamento avaliado em 300 mil euros a quem promover um massacre de brasileiros no país. Além disso, ofereceu um “bônus” de 100 mil euros a quem lhe entregasse a cabeça da jornalista. A intimidação não é inédita: no ano passado, ele já havia enviado a Stefani uma foto segurando armas e declarando que seriam usadas contra ela.

A jornalista denunciou o extremista ao Ministério Público, que instaurou inquérito sob segredo de Justiça. Apesar de já ter prestado depoimentos, ela relata lentidão na investigação. “Já prestei vários depoimentos, mas o caso está andando bem devagar”, afirmou. O Ministério Público, em resposta, informou que as apurações seguem em curso com apoio da Polícia Judiciária.

Fontes ligadas ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa confirmaram a existência das investigações, mas destacaram a dificuldade em responsabilizar autores de perfis usados para disseminar ódio, já que as plataformas resistem em colaborar com os processos.

Voz firme contra o ódio e a xenofobia

Apesar das ameaças, Stefani Costa afirmou que não pretende se calar. Para ela, os ataques expõem não apenas uma violência pessoal, mas também um atentado contra o jornalismo e a liberdade de imprensa. “Acredito ser fundamental expor essa situação, pois ela representa também uma afronta ao exercício do jornalismo e à liberdade de imprensa”, ressaltou.

A jornalista defendeu ainda uma mobilização mais ampla da sociedade e das autoridades portuguesas para aprovar leis mais severas contra crimes de ódio. “Quando esse tipo de ameaça é normalizado, todos se tornam reféns. É importante que os brasileiros se organizem e cobrem das autoridades portuguesas medidas concretas contra a xenofobia e o racismo”, disse. Ela também apelou ao governo brasileiro para reforçar a proteção aos imigrantes, que vêm enfrentando episódios crescentes de violência em Portugal.
Protesto e repúdio

Organizações ligadas ao jornalismo e aos direitos humanos têm se manifestado contra as ameaças. Em nota, a Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal repudiou o ataque à repórter e pediu rigor das autoridades. O documento destacou ainda que o país não pode abrir espaço para discursos de intolerância e violência.

Além disso, o Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO) já havia alertado que Portugal se tornou epicentro europeu de fake news relacionadas à imigração, contexto que alimenta a onda de ódio.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também se pronunciou na página de internet da entidade

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi informado sobre o caso e deve se pronunciar. A expectativa é que o episódio pressione o governo português a adotar medidas mais eficazes contra extremistas de direita que utilizam as redes sociais para incitar a violência.

“Não seremos silenciados”
Stefani Costa destacou o valor da resistência e da dignidade. “Contribuímos para o desenvolvimento de Portugal e fazemos parte da sociedade. Por isso, merecemos ser tratados com respeito e dignidade”, afirmou.

O caso reacendeu a urgência de um debate público sobre a proteção de jornalistas e imigrantes, além da necessidade de endurecimento contra crimes de ódio em Portugal, em um momento de crescente ameaça da extrema direita.

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