Opinião

Rússia e China: uma fraternidade “para sempre”

18/05/2024

A visita de Putin à China é acontecimento marcante na vida política internacional e prenuncia desdobramentos globais positivos, escreve o dirigente comunista José Reinaldo Carvalho

Por José Reinaldo Carvalho (*) – Há 75 anos, quando Joseph Stálin e Mao Tsetung, dois dos maiores estadistas e líderes comunistas do século 20, se encontraram e estabeleceram relações diplomáticas, de amizade e cooperação, uma canção composta para comemorar o grande enlace tornou-se célebre. Seu mais sonoro verso dizia: “russos e chineses são irmãos para sempre”.

Hoje, em um contexto totalmente distinto, durante a visita que fez nos últimos dois dias a Pequim, o presidente Vladimir Putin, antes de começar o concerto comemorativo da efeméride, relembrou a canção e fez daquele verso uma profissão de fé sobre o desenvolvimento futuro dessa fraternidade. Ao citar a canção, o chefe do Kremlin expressou a confiança em que a relação fraternal entre os dois povos vai durar para sempre.

A visita do presidente russo Vladimir Putin à China, ocorrida nesta quinta e sexta-feira (16 e 17) em meio à comemoração do 75º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, é um evento de grande significado geopolítico. As conversações entre Putin e o presidente chinês Xi Jinping resultaram em um reforço dos laços bilaterais, além de reafirmar o compromisso conjunto em prol de uma ordem mundial mais justa e multipolar, e da promoção da paz global.

As relações entre Rússia e China, como destacaram ambos os líderes, transcendem o mero pragmatismo e não são dirigidas contra nenhum outro país. Pelo contrário, representam um exemplo de cooperação baseada na confiança mútua, respeito e benefício mútuo. Putin enfatizou que a parceria entre Moscou e Pequim não é apenas simbólica, mas serve como modelo para os laços entre Estados vizinhos.

Xi Jinping, sistematizou em cinco pontos os princípios em que as relações entre os dois gigantes se baseiam. Primeiro, a China e a Rússia estão comprometidas com o respeito mútuo como o princípio fundamental das relações, e sempre prestam apoio aos interesses centrais um do outro. Segundo, China e Rússia estão comprometidas com a cooperação ganha-ganha como a força motriz das relações, e trabalham para promover um novo paradigma de benefício mútuo. Terceiro, China e Rússia estão comprometidas com a amizade duradoura como fundamento das relações, e carregam a tocha da amizade sino-russa. Quarto, China e Rússia estão comprometidas com a coordenação estratégica como base das relações, e orientam a governança global na direção certa. Quinto, China e Rússia estão comprometidas com a justiça e a equidade como o propósito das relações. Esses “cinco princípios” estabelecem um modelo para as relações entre potências vizinhas e continuarão a guiar as relações entre China e Rússia em direção a novos sucessos.

Durante a visita de Putin, os dois líderes firmaram o compromisso de construir uma ordem mundial multipolar e democrática como passo significativo em direção à estabilidade global. Ambos concordaram que a hegemonia unilateral, as alianças militares e políticas fechadas e a política de força representam ameaças diretas à paz mundial e à segurança de todos os países. Em face disso, eles defendem uma abordagem baseada no direito internacional e no estabelecimento de novos pontos de equilíbrio de interesses globais. Em um mundo marcado por crescentes tensões geopolíticas e rivalidades entre grandes potências, a parceria entre Rússia e China oferece um contraponto de estabilidade. Ambos os países têm trabalhado ativamente para promover o multilateralismo, a multipolaridade e uma ordem mundial baseada no respeito ao direito internacional. Isso é fundamental para evitar conflitos e conjurar o perigo de uma confrontação global.

Ao defender uma ordem mundial multipolar, Rússia e China estão estabelecendo um contraponto à hegemonia unilateral e imperialista e promovendo uma distribuição mais equitativa do poder global. Isso é essencial para garantir que todas as nações tenham voz e representação nas decisões internacionais. Além disso, ao rejeitar alianças militares e políticas fechadas, os dois países estão defendendo uma abordagem mais inclusiva e cooperativa para a segurança coletiva.

A visita do presidente russo evidenciou que a cooperação econômica entre Rússia e China está em ascensão, com a introdução oportuna de liquidações em moedas nacionais contribuindo para o aprofundamento dos laços comerciais e de investimento e reduzir a dependência do dólar americano. Isso tem o potencial de diversificar o sistema financeiro internacional.

A colaboração entre Rússia e China não se limita apenas às questões bilaterais, mas também abrange a cooperação regional. O compromisso de construir uma “Parceria Euroasiática Maior” demonstra a visão de longo prazo de ambos os países para promover a integração e o desenvolvimento em toda a região da Eurásia. Isso não só beneficia os dois países, mas também contribui para o crescimento e a estabilidade de outras nações na região.

Trata-se, para além disso, de uma cooperação sem limites, porquanto se manifesta nas Nações Unidas, no Brics, na OCX (Organização para a Cooperação de Xangai), no G20 e na iniciativa Cinturão e Rota.

Finalmente, como sinalização concreta da cooperação para a paz, o encontro entre Putin e Xi despertou novas expectativas quanto à abertura de caminhos para negociações objetivas que conduzam ao fim da guerra na Ucrânia. No diálogo que mantiveram a portas fechadas, Putin agradeceu ao presidente chinês pelas propostas que este lançou há um ano e reafirmou recentemente para resolver a situação na Ucrânia. Xi, por seu turno, disse que a China espera a rápida restauração da paz e estabilidade no continente europeu e voltou a se disponibilizar para continuar desempenhando um papel construtivo para este fim.

Por todos esses aspectos, a visita de Putin à China é um acontecimento que tende a acarretar desdobramentos positivos na conjuntura internacional por longo período.

(*) José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil, onde dirige a frente de Solidariedade e Paz. É presidente do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

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