Entrevista especial feita pela Imprensa Internacional Comunista (sigla em inglês International Communist Press) com Arun Kumar Rupanagunta, Membro do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da Índia-Marxista (PCI-M)
ICP: Poderia nos dizer qual é a principal agenda do seu partido na atual conjuntura?
Arun Kumar Rupanagunta (AKR): As principais questões que o nosso partido está tratando são: em primeiro lugar, a questão da crise econômica que afeta o sustento do povo da Índia, apesar da divulgação do governo indiano, de que a nossa economia não é afetada pela crise econômica global. Na verdade, ela afeta a economia indiana, muitos empregos são perdidos, o sustento da família, para muitas pessoas, é um problema sério, e depois há a questão da inflação, o problema dos bens essenciais que não estão disponíveis para as pessoas comprarem. Então, essas são algumas das questões que vamos abordar.
Relacionado a isso, o segundo ponto em que focaremos é a intervenção do governo nesta crise. Como o governo trata da questão? Anunciarão alguma medida política, ou não?? Até agora, o governo não parece estar inclinado a abordar esta questão, no que diz respeito ao povo em geral, então o forçaremos a tratar do assunto.
Outro problema é o crescimento da intolerância. Há crescentes ataques à liberdade de expressão em nosso país. Então estamos abordando esta questão de maneira ampla. As pessoas não têm permissão de escolher como viverão as suas próprias vidas. As forças fundamentalistas estão tentando entrar na vida privada dos indivíduos e ditar suas próprias regras. Não concordamos com isso. Queremos que as liberdades individuais sejam preservadas, o que é um direito constitucional.
ICP: Poderia compartilhar conosco a sua avaliação sobre a mais recente onda de greves no país e o ato de mobilização em Bengala Ocidental?
AKR: Na verdade, existem três questões relacionadas com isto. Uma delas é a classe operária e suas reações. Houve mobilizações grevistas por parte do movimento operário. Temos uma unidade sindical construída por nós, na qual todas as centrais sindicais se reuniram para protestar contra a emenda sobre as perdas do trabalho, que o governo está tentando aprovar, com a finalidade de atrair o capital de que necessita para atacar os direitos do trabalhador à greve, a se sindicalizar e se organizar. Então, estamos protestando também e organizamos todas as centrais sindicais, independentemente de suas posições políticas, uma vez que é um problema dos trabalhadores. Dois meses atrás, foi organizada uma greve que se tornou um enorme sucesso no país. E isso vai continuar nos dias vindouros, porque o governo apresentará o orçamento, e saberemos a real posição do governo e qual a será a sua política.
A segunda questão é Bengala Ocidental. Lá, recentemente, foram testemunhados intensos ataques aos partidos de esquerda em geral e ao PCI (M), em particular. No período dos dois últimos anos, perdemos mais de 172 companheiros, assassinados pelas forças reacionárias no governo de Bengala Ocidental. Os assassinos são incentivados pela polícia e protegidos pelo governo de Bengala Ocidental. Então, continuam tirando as vidas dos nossos companheiros. Cerca de 50.000 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.
Não estão autorizados a entrar em suas cidades de origem ou aldeias ou a ficar com suas famílias. Mulheres são atacadas todos os dias. Mulheres estão sendo violentadas porque pertencem ao PCI (M). Portanto, o que existe é uma terrível atmosfera de violência contra os direitos democráticos do povo de Bengala Ocidental pelo atual governo. E nas eleições para os órgãos locais, o povo não está autorizado a votar. O partido do governo votou no lugar de todas as pessoas e cometeu uma enorme fraude eleitoral. Portanto, esta é a situação que estamos enfrentando neste estado. E, em abril, talvez tenhamos uma eleição para a assembleia provincial.
Estamos tentando mobilizar todas as forças que podem salvar a atmosfera democrática em Bengala Ocidental e assegurar uma eleição livre.
O Partido organizou grandes atos. Houve uma manifestação campesina organizada pelo PCI (M), que foi atacada pela polícia. Então, implantamos uma ampla plataforma com as várias organizações de massas. Por meio desta plataforma, e em seu nome, estamos conectados com duas localidades no estado: todas as aldeias, as cidades e municipalidades que elas cobrem, discutindo com as pessoas sobre seus problemas e tentando compreendê-los e desenvolver lutas com base nessas questões reais. Tivemos, recentemente, uma reunião plenária em Calcutá, a capital de Bengala Ocidental. Mobilizamos um milhão e duzentas mil pessoas, num grande ato.
ICP: Qual é a visão do seu Partido sobre a recente escalada da tensão entre os EUA e a China na região?
AKR: Depois de Obama, que é um laureado com o Nobel da Paz, infelizmente, ter chegado ao poder, declarou sua política como “prioridade Ásia”. Então, 60 por cento das forças da marinha dos EUA deslocaram-se para a região da Ásia-Pacífico. Há uma tentativa de construir o seu poder militar nas regiões do Pacífico e do Oceano Índico. A Índia, infelizmente, está caindo na armadilha feita pelos EUA e ignorando os seus vizinhos regionais, com quem deve realmente desenvolver boas relações. A Índia segue os EUA e sua política de contenção à China. Recentemente, tem havido uma série de exercícios navais, na costa indiana, organizados em conjunto com as marinhas dos EUA e do Japão. Nós nos opomos a isto. Por isso estamos contra esta agressão. Acreditamos que se trata de uma tentativa de impor a hegemonia dos EUA, sobre toda a região.
ICP: Poderia nos contar sobre a situação mais recente da luta pelo socialismo na Índia, especialmente nos estados onde o movimento comunista tem forte apoio, como Kerala e Bengala Ocidental?
AKR: Primeiro de tudo, a luta pelo socialismo na Índia não se pode materializar ou ser realmente frutífera se confinada em alguns bolsões de influência por parte dos comunistas de nosso país, e especificamente do nosso Partido, que têm suas bases em Kerala, Bengala Ocidental e Tripura. Nesta última cidade estivemos também no governo durante os últimos 35-40 anos. Temos também outras bases fortes em diferentes regiões do país, especialmente em Tamil Nadu, Andhra Pradesh, Telangana etc. Recentemente, realizamos o congresso do partido e também a plenária da organização do partido. Ficou decidido que precisamos expandir a nossa influência em todo o país. Precisamos construir um partido revolucionário com uma linha de massa e expandir a base de massa do partido, sem perder sua característica revolucionária. Portanto, esta é uma tarefa que estamos realizando agora e que é necessária para alcançar a revolução socialista na Índia. Para este fim, identificamos que temos de tratar de questões econômicas juntamente com as questões sociais em nosso país.
Temos vestígios feudais e também a exploração capitalista, que ainda continuam. Então, é necessário abordar estas duas questões para construir um movimento da classe operária, juntamente com um movimento camponês.
ICP: Houve alguma alteração significativa no programa político do PCI (M) no último congresso?
AKR: Não há mudanças programáticas assumidas no último congresso, mas há alterações táticas. Fizemos algumas correções para a linha estratégica-tática que vimos seguindo nos últimos 20-25 anos. Agora, a ênfase está na construção de uma frente democrática de esquerda, que não será meramente uma luta eleitoral, mas uma luta de classes. Para nós, uma frente democrática de esquerda significa que estará baseada na unidade dos trabalhadores e camponeses, e que incluirá todas as categorias do campesinato e também a pequena burguesia. Para levá-los, essencialmente, à luta de classes.
Detectamos também um crescimento das forças fundamentalistas no país, e concordamos que a luta contra estas forças está relacionada à luta contra as políticas neoliberais.
Acredito que, como comunistas, é nossa tarefa concentrar a atenção tanto na luta contra os intensos ataques das classes dominantes sobre a classe trabalhadora, neste momento de crise econômica, quanto à questão do crescimento das forças fundamentalistas. Já testemunhamos a ascensão do fascismo e os danos que poderiam causar para os povos do mundo.
ICP: Por último, como consideraria a reunião do grupo de trabalho em Istambul*?
AKR: Considero-a muito produtiva. Na verdade, nos últimos muitos anos, esta foi uma das reuniões do GT mais frutíferas que já tivemos, onde o local foi decidido, o tema foi acordado, e chegamos a decisões unânimes em um tempo tão curto. Creio que devemos congratular o PC da Turquia, por seus esforços.
[1] PCI (M) Partido Comunista da Índia (Marxista) (N.T.)
[2] ICP – Imprensa Internacional Comunista (sigla em inglês International Communist Press) (N.T.)
* A pergunta faz referência à reunião do Grupo de Trabalho do Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários realizada no mês de Fevereiro. Saiba mais sobre este evento lendo o artigo Movimento comunista, a crise do capitalismo e a ofensiva imperialista.
Fonte: ICP
Tradução: Maria Helena D’Eugênio
[:en]
Special interview with Arun Kumar Rupanagunta, Member of International. Department of the CC of the Communist Party of India-Marxist (CPI-M)
ICP, 2nd March 2016
ICP: Can you tell us what is the main agenda of your party in the current conjuncture?
Arun Kumar Rupanagunta (AKR): The main issues that our party is dealing with are; first of all the question of economic crisis that is affecting the livelihood of Indian people, in spite of the claims of the Indian government, that the Indian economy is unaffected by the global economic crisis. It has in fact its effects on the Indian economy, many jobs are lost, many people’s livelihood is in serious question, and then there is the question of inflation, the problem of the essential commodities not available for people to purchase. So these are some of the issues that we are going to address.
Related to this, the second issue we focus is the government’s intervention to this crisis. How does the government address to this question? Are they going to announce any policies, or not? Until now, the government appears not to be inclined to address this issue concerning common people, so we are going to force them to address these issues.
Another issue is the growth of the intolerance. There are increasing attacks on the freedom of expression in our country. So we are going to take on that issue in a big way. People are not allowed to choose how to live their own lives. The fundamentalist forces are trying to enter into the personal lives of individuals and trying to dictate their own rules, which we do not agree with. We want the personal freedoms to be preserved, which is also a constitutional right.
ICP: Can you share your assessment on the latest wave of strikes in the country and the mobilization rally in West Bengal?
AKR: Actually there are three issues related to this. One is the working class and its reactions. There were calls to strike by the working class movement. We have a trade union unity that we have built up, in which all the central trade unions came together to protest against the amendment of the labor loss, which the government is trying to pass. To attract capital it needs to attack the rights of workers to strike, to unionize and to organize. So we are protesting against them and we organized all the central unions regardless of the political views they have. Since it is an issue of workers. Two months ago, they organized a strike, which became a huge success in the country. And this will continue in the coming days, because the government is going to introduce the budget, and we will learn where the government stands and what its policy will be.
The second issue is West Bengal. West Bengal has recently witnessed intense attacks on the left parties in general and CPI-M in particular. In this period of the last two years, we have lost over 172 comrades, murdered by the reactionary forces in West Bengal government. The murderers are encouraged by the police and protected by the West Bengal government, so they kept attacking to the lives of our comrades. Around 50.000 people were forced to leave their houses. They are not allowed to enter in their hometowns or villages and stay with their families. Also women are attacked everyday, women are raped because they belong to the CPI-M. So there is a terrible atmosphere of violence against the democratic rights of the people of West Bengal by the present government in West Bengal in this period. And in the elections for the local bodies, people are not allowed to vote. The ruling party has voted in place of all the people and committed a huge electoral fraud. So this is the situation we are facing in this state. And in April maybe we will be having an election for the provincial assembly. We are trying to mobilize all forces who can save the democratic atmosphere in West Bengal and to make sure that there will be a free election.
Then the party had organized huge rallies. There was a peasant rally organized by the CPI-M, which was attacked by the police. Then we have formed a platform of various mass organizations. On behalf of that platform we have connected with two of all the localities in the state: all the villages, all the towns, all the cities that they cover, discussing with people about their problems. Trying to understand their issues, and to develop struggles on the basis of that understanding. And we had an organization plenum recently, in Calcutta, the capital city of West Bengal. Then we mobilized 1.2 million people for a huge rally.
ICP: How does your party view the recently escalating tension between the USA and China in the region?
AKR: After Obama, who is a Nobel Peace laureate unfortunately, had come to power, he declared his policy as “Asia-priority.” So 60 percent of the US navy forces shifted to the Asia-Pacific region. There is an attempt to build its military power in the Pacific and Indian Ocean regions. India is unfortunately falling into the trap made by the US and ignoring its regional neighbors, with whom it actually need to develop good relations. It is going with the US and its policy toward the containment of China. So there has been naval exercises recently organized along with the US and Japanese navies in the Indian coast, which we opposed. So we are against this aggression. We think that it is an attempt to impose the US hegemony on the entire region.
ICP:Can you tell us about the latest situation of the struggle for socialism in India, particularly in the states where there is a strong support for communist movement such as Kerala and West Bengal?
AKR: First of all, the struggle for socialism in India cannot materialize or be really fruitful if confined into a few pockets of influence by the communists. Communists in our country, and our party specifically, have their bases in Kerala, West Bengal and Tripura. The last one is where we also have had the government for the last 35-40 years. Then we have also other strong basis in different regions of the country, particularly in Tamil Nadu, Andhra Pradesh, Telangana etc. But still we need to grow as an all-India force. Recently, we had the party congress and also the party plenum on organization, and decided that we need to expand our influence throughout the country. We need to build a revolutionary party with a mass line and to expand the mass base of the party without losing its revolutionary characteristic. So this is a task we take upon now, which is necessary to achieve the socialist revolution in India. To this end, we identified that we need to take on economic issues along with the social issues in our country. We have feudal remnants and also capitalist exploitation still continuing. So we need to address to these two issues to build a working class movement along with a peasant movement.
ICP: Have there been any significant changes in the political program of the CPI-M in the last congress?
AKR: There are no programmatic changes that we undertook in the last congress, but there are tactical changes. We made some corrections to the strategic-tactical line we have been following for the last 20-25 years. Now the emphasis is on building a left-democratic front, which will not be merely an electoral struggle but a class struggle. For us a left-democratic front means that it will be based on the unity of the workers and the peasants, and it will include all the categories of the peasantry and also the petty-bourgeoisie. But it will essentially lead them to the class fight.
We also determined a growth of the fundamentalist forces in the country, and agreed that the fight against these forces is linked with the fight against the neoliberal policies.
I think, as communists, it is our task to concentrate our attention in the fight both with the ruling classes’ intense attacks on the working class in this time of economic crisis and with this issue of the growth of fundamentalist forces. We had already witnessed the rise of fascism and what damage they could do to the people of the World.
ICP: Lastly, how would you consider the WG meeting in İstanbul?
AKR: I found it very productive. Actually, for the last many years, this is one of the most fruitful WG meetings we had, where the venue was decided, the theme was agreed upon, and where coming to unanimous decisions took such a short time. I think we should congratulate the CP, Turkey for its efforts