Opinião
Bolsonaro age no palco internacional como se o Brasil fosse um Estado sabujo
O dirigente comunista José Reinado Carvalho (*) argumenta, a propósito da iniciativa brasileira de propor à ONU que investigue e puna a Venezuela, que no mundo, segundo a nomenclatura utilizada pelas potências imperialistas, existem “Estados falidos”, “Estados párias”, “Estados bandidos”, entre outros conceitos. Bolsonaro está introduzindo uma nova categoria, para desonra dos brasileiros, a de Estado sabujo
O governo de Jair Bolsonaro, secundado pelos governos de Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala e Peru, apresentou à ONU um projeto de resolução que pede uma investigação internacional contra a Venezuela.
Bolsonaro e sua desastrada diplomacia prestam assim mais um serviço ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, em auxílio à brutal ofensiva para derrubar o governo legítimo e constitucional do presidente Nicolás Maduro.
Há tempos os Estados Unidos buscam o pretexto para criminalizar o governo venezuelano, a fim de legitimar o bloqueio comercial e financeiro e justificar atos de ingerência, dos quais não exclui a agressão militar.
Com acusações vagas, pretende envolver o organismo multilateral e obter seu respaldo. Tudo indica que irá fracassar. A Venezuela tem uma competente diplomacia, que age com rapidez no quadro de uma política externa assertiva na defesa dos seus interesses. E conta com o apoio e a solidariedade ativos de países e povos amigos em todas as instâncias das Nações Unidas, a começar pela Comissão de Direitos Humanos.
Ao tentar se associar à ofensiva dos Estados Unidos para criminalizar a Venezuela, Bolsonaro se soma ao cerco e ao bloqueio que tantos sofrimentos causam ao povo venezuelano, numa prova de hostilidade para com um país vizinho e amigo como nunca se viu na história da diplomacia brasileira. Como ele próprio já tinha sinalizado em outras ocasiões, age cumprindo ordens do imperialismo estadunidense, ao qual pretende subjugar o Brasil. A atuação brasileira em fóruns como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e no Grupo de Lima têm demonstrado isto, para além da relação bilateral com os Estados Unidos.
Mesmo nos casos em que faz encenações histriônicas de “nacionalismo” e “defesa da soberania nacional”, como na crise internacional que teve como epicentro sua atitude irresponsável e permissiva com a devastação da Amazônia, Bolsonaro atua no palco internacional como peão da luta interimperialista dos Estados Unidos com a União Europeia. Ao mesmo tempo que travou um duelo sem princípios e retórico com o presidente francês, anunciou para o Brasil e o mundo que entregava à parceria com a superpotência norte-americana a proteção à floresta amazônica.
A proposição de investigação e punição contra a Venezuela obedece ao mesmo roteiro traçado por Trump, que Bolsonaro executou à risca, em incidentes recentes nos quais invectivou contra outros países amigos do Brasil, como Cuba, Nicarágua e forças políticas democráticas da Argentina.
Não se podia esperar outra coisa de um governo de traição nacional, cujo titular bateu continência perante a bandeira dos Estados Unidos e firmou com o chefe da Casa Branca acordos de lesa-pátria durante a visita de Estado que fez a Washington em março último.
Bolsonaro aderiu por completo à estratégia de Donald Trump, de domínio hegemônico do mundo e espoliação neocolonialista do Brasil.
No mundo, segundo a nomenclatura utilizada pelas potências imperialistas, existem “Estados falidos”, “Estados párias”, “Estados bandidos”, entre outros conceitos. Bolsonaro está introduzindo uma nova categoria, para desonra dos brasileiros, a de Estado sabujo.
(*) Jornalista, editor da Página da Resistência, membro do Comitê Central do PCdoB