Em contraste com o imperialismo, Dilma defendeu na ONU um mundo de paz
Na afanosa e estridente campanha contra o governo da presidenta Dilma, no jogo de tudo ou nada para impedir sua reeleição, a mídia privada nacional, pondo-se mais uma vez a serviço das candidaturas de Aécio Neves (PSDB) ou Marina Silva (PSB), viram no pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff na abertura da sessão de debates de alto nível da Assembleia Geral da ONU uma peça da campanha eleitoral. Só faltaram arguir “falta de legitimidade” e exigir “direito de resposta”.
José Reinaldo Carvalho *
Essa postura é mais uma demonstração de que nos tempos atuais o que sobressai são as magnas mesquinharias, o essencial e grandioso dando lugar a pormenores do nada.
Na ONU, falou a estadista, a chefe de Estado e Governo de uma grande nação soberana, em busca de um lugar condigno no mundo, capaz e disponível para aportar rica contribuição ao progresso social, a um mundo de cooperação e paz:
“Os Estados-membros e as Nações Unidas têm, hoje, diante de si desafios de grande magnitude.
Estas devem ser as prioridades desta Sessão da Assembleia Geral.
O ano de 2015 desponta como um verdadeiro ponto de inflexão.
Estou certa de que não nos furtaremos a cumprir, com coragem e lucidez, nossas altas responsabilidades na construção de uma ordem internacional alicerçada na promoção da Paz, no desenvolvimento sustentável, na redução da pobreza e da desigualdade.
O Brasil está pronto e plenamente determinado a dar sua contribuição”, asseverou a mandatária.
Esta é a mensagem central – límpida e irrefutável – do discurso presidencial, expressão dos compromissos que o Brasil assume perante o mundo, antecedida por dois elementos centrais que despertam a ira dos oposicionistas.
O primeiro deles foi o informe da estadista sobre as condições em que o Brasil está preparando-se para dar seu salto civilizacional e reunir efetivamente condições de se tornar uma grande nação progressista.
Dilma deu-se o trabalho – que corresponde ao seu dever de líder da nação – de expor aos chefes de Estado reunidos na magna assembleia os avanços democráticos e sociais que o país tem alcançado, o processo de transformação que vive, num quadro de contradições, lutas e dificuldades objetivas e subjetivas.
A oposição antinacional e sua mídia decerto estão contrariadas com o fato de a presidente não ter ido à organização internacional como primeira etapa de um périplo que teria por destino final o FMI, ao qual se dirigiria com o pires na mão para pedir “socorro” ante algum descalabro econômico-financeiro. Ou como rito de passagem para se expor a alguma sanção do Conselho de Segurança ou reprimenda de alguma das potências decadentes do sistema imperialista por haver reprimido “manifestações”. Ou ainda, como uma governante fraca, no papel de vítima, desculpando-se pelo “fracasso” na organização da Copa e pelos “prejuízos” que cidadãos estrangeiros teriam sofrido no país em junho e julho passados.
Afinal, a usina de mentiras trabalhou a pleno vapor com esta finalidade. Registrar o momento em que a chefe de Estado brasileira mostra ao mundo as conquistas sociais do país e é por esta razão aclamada, é algo de fato intolerável. Não restou alternativa senão atacar a presidenta pelo uso da ONU como palanque eleitoral. É em horas como esta que mais sentimos a falta de um cronista como o saudoso Stanislaw Ponte Preta, morto a 30 de setembro de 1968, com seu “Festival de Besteiras que Assola o País”. É compreensível o nervosismo de editorialistas e cronistas. Estavam preparados para outro cenário – o fracasso e a desmoralização do país.
O segundo aspecto a abrir as comportas para a enxurrada de ataques foi a posição corajosa e firme da mandatária ao condenar o uso da força, a política de sanções, o intervencionismo e o belicismo nas relações internacionais:
“A atual geração de líderes mundiais – a nossa geração – tem sido chamada a enfrentar também importantes desafios vinculados aos temas da paz, da segurança coletiva e do meio ambiente.
Não temos sido capazes de resolver velhos contenciosos nem de impedir novas ameaças.
O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na persistência da Questão Palestina; no massacre sistemático do povo sírio; na trágica desestruturação nacional do Iraque; na grave insegurança na Líbia; nos conflitos no Sahel e nos embates na Ucrânia.
A cada intervenção militar não caminhamos para a Paz, mas, sim, assistimos ao acirramento desses conflitos.
Verifica-se uma trágica multiplicação do número de vítimas civis e de dramas humanitários. Não podemos aceitar que essas manifestações de barbárie recrudesçam, ferindo nossos valores éticos, morais e civilizatórios”.
Um flagrante contraste com a posição assumida, imediatamente após pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e outros líderes de potências ocidentais, que reforçaram políticas militaristas, intervencionistas e belicistas, ao arrepio do direito internacional para “combater o terrorismo”. Há várias semanas, essas potências mandam ao mundo a mensagem de que promoverão por muito tempo bombardeios no Iraque e na Síria, sob o pretexto de atacar as posições do chamado Estado Islâmico (EI). A posição brasileira incomodou tanto que os jornais desta quinta-feira (25) acusam a presidenta de “legitimar” o EI.
Dilma pontuou também a sua oposição ao massacre perpetrado por Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza e apresentou a contribuição específica do Brasil para modificar a realidade econômica e política do sistema internacional, com o empenho para o fortalecimento dos mecanismos da integração latino-americana e caribenha e o êxito dos Brics, cuja mais recente reunião de cúpula, a sexta, foi realizada em julho último em Fortaleza – “um encontro fraterno, proveitoso, que aponta para importantes perspectivas para o futuro”.
A estadista brasileira deve ter incomodado os interesses das potências imperialistas e seus agentes na mídia nacional e nas candidaturas oposicionistas também ao defender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O discurso presidencial na abertura do debate de alto nível da Assembleia Geral da ONU é referência importante no debate sobre os rumos da política externa. Aécio Neves e Marina Silva já se queixaram de público do “caráter ideológico” dessa política e, repercutindo as exigências dos setores mais entreguistas das classes dominantes, voltaram a propor a subordinação dos interesses do país ao imperialismo estadunidense e às potências imperialistas da União Europeia. Igualmente, atacaram a política de integração regional, propondo, em nome do “pragmatismo”, o abandono dos mecanismos de integração regional, de eficiência econômica e comercial já comprovada.
Para as forças progressistas e patrióticas, o discurso da presidenta foi a reafirmação de um rumo seguro de luta e conquista de grandes avanços na inserção do país no mundo, proporcionados por uma política externa ativa e altiva, a um só tempo independente, soberana, integradora, solidária, universalista e multilateralista.
Já que falaram em campanha eleitoral na ONU, permitimo-nos dizer que na eleição presidencial também está em jogo se o Brasil continuará esta trajetória ou se regredirá à condição de neocolônia subdesenvolvida e avassalada pelos interesses imperialistas.
Editor do Portal Vermelho*