GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Socorro Gomes: Nosso compromisso é com a paz mundial e a solidariedade entre os povos

Compartilhe

A presidenta do Conselho Mundial da Paz, a brasileira Socorro Gomes, participou na 17ª Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados (MNOAL), convidada pelo presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro. A cúpula se realizou no último fim de semana, na Ilha Margarita, Venezuela. Uma demonstração do prestígio do CMP, fundado após a Segunda Guerra Mundial e de reconhecida atuação em favor do desarmamento, da paz mundial e da solidariedade entre os povos.

A presença do Conselho Mundial da Paz na 17ª Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados reforça ainda mais a importância da organização pacifista anti-imperialista, às vésperas da sua Assembleia Mundial, que se realizará em território brasileiro, na cidade de São Luís (MA), entre os dias 17 e 20 de novembro deste ano. Leia a íntegra do pronunciamento de Socorro Gomes na plenária de chefes de Estado e Governo da Cúpula do Movimento de Países Não Alinhados.

Excelentíssimos Chefes de Estado e de Governo,

Senhoras e senhores,

Recebam, em nome do Conselho Mundial da Paz, a mais calorosa saudação e a nossa mensagem de paz e solidariedade, nesta ocasião em que se realiza, no heroico país do Libertador Simón Bolívar e do inolvidável Comandante Hugo Chávez, a 17ª Cúpula do Movi­mento de Países Não Alinhados. Este é o segundo maior foro do mundo, com 120 Estados-membros, que representam quase dois terços dos integrantes da Organização das Nações Unidas e 55% da população mundial.

Nossa felicitação ao presidente Nicolás Maduro e ao povo venezuelano pela designação de seu país como Presidente do Movimento de Países Não Alinhados, um marco importante na diplomacia regional, que a um só tempo é um golpe nos intentos das forças conservadoras, pró-imperialistas e inimigas da paz para isolar a República Bolivariana. Esta Presidência é o terceiro mandato que a Venezuela assume, além do Mercosul e da Unasul. Como brasileira, não posso deixar de manifestar minha inconformidade com a atitude do governo do meu país, oriundo de um golpe de Estado institucional, que, em aliança com a Argentina e o Paraguai, violou as normas do Mercosul para impedir que a Venezuela assuma, como é de direito, a Presidência pro tempore do Organismo regional.

Desde a histórica Conferência de Bandung, em 1955, e a Primeira Conferência dos Chefes de Estado e de Governo Não Alinhados, em 1961, o mundo passou por grandes transformações. Em todo esse período histórico, foi de grande importância o papel desse Movimento, que segue sendo um ator de peso na atualidade, em defesa dos princípios das Nações Unidas, contra as guerras de agressão e intervenções estrangeiras, pela autodeterminação dos povos e nações, a independência nacional, o desenvolvimento econômico com justiça social e o equilíbrio ambiental. E sobretudo, na luta pela paz mundial, o desarmamento nuclear, a segurança internacional, os direitos dos povos, a democratização e a igualdade nas relações internacionais.

Os movimentos sociais e os defensores da paz em todo o mundo admiram o Movimento dos Países Não Alinhados como uma coletividade de Estados nacionais ampla e representativa comprometida com os princípios referidos e que nunca faltou com seu dever de solidariedade com os povos e nações em luta por seus direitos.

Valorizamos esta Cúpula de Chefes de Estado de Governo como um grande acontecimento político.

O Movimento dos Países Não Alinhados é uma organização política, cuja plataforma sempre foi a luta contra o colonialismo e o imperialismo, por uma nova ordem econômica e política internacional. Ecoam fortemente as vozes dos seus países-membros quando se pronunciam sobre temas candentes da política internacional, numa cabal demonstração da sua atualidade como articulação internacional.

Na opinião da nossa organização, o Conselho Mundial da Paz, vivemos um momento em que recrudescem as ameaças de guerra e as ações intervencionistas por parte de potências imperialistas e hegemonistas. Multiplicam-se as bases militares estrangeiras nos territórios de países soberanos, agiganta-se o militarismo, aumentam e se aperfeiçoam as armas nucleares e outros artefatos de destruição em massa. A Otan assume o papel de gendarme internacional. Preocupam-nos especialmente os intentos de militarização da África, com a existência do Africom, da América Latina, com a expansão das bases militares e a existência da Quarta Frota da Marinha de Guerra estadunidense, a estratégia militar dos Estados Unidos para a Ásia e a persistência dos conflitos no Oriente Médio, a guerra terrorista contra a Síria, o massacre do povo palestino. Numa conjuntura como esta, o Movimento dos Países Não Alinhados pode desempenhar importante papel a favor da resistência dos países e povos que lutam para defender a sua soberania e conjurar os perigos advindos da ação agressiva das grandes potências.

A realização da Cúpula dos Países Não Alinhados em território latino-americano atribui-lhe um significado especial, porquanto a região se encontra no alvo de uma brutal ofensiva por parte imperialismo estadunidense e das oligarquias locais para reverter as grandes conquistas alcançadas pelos países da América Latina e o Caribe no aprofundamento da democracia, fortalecimento de sua soberania, da integração solidária e na realização de políticas sociais que em muito contribuíram para erradicar a miséria.

Os exemplos mais eloquentes dessa ofensiva são o golpe de Estado que se consumou no Brasil contra o governo democrático da presidenta Dilma Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos, e as tentativas de golpe e intervenção contra a Bolívia, o Equador e a Venezuela. Especialmente a República Bolivariana está no alvo da guerra econômica das oligarquias e permanentemente ameaçada de golpe e intervenção externa, que se agudizou a partir do momento em que o governo dos Estados Unidos emitiu um decreto considerando o país como uma ameaça a sua segurança nacional.

No contexto latino-americano e caribenho saudamos a assinatura do acordo de paz na Colômbia entre o governo nacional e a insurgência. Este acordo é resultado da luta heroica do povo colombiano por democracia, soberania, progresso e justiça social.

Congratulamo-nos com o povo e o governo da República de Cuba pelos êxitos da sua diplomacia e da heroica resistência em defesa de sua autodeterminação. O restabelecimento das relações com os Estados Unidos é uma vitória histórica da sua resistência, um passo importante na luta contra o iníquo bloqueio econômico. Esta Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados pode ser também um alento e uma manifestação de solidariedade para que resultem vitoriosos os esforços pelo fim do bloqueio e pela devolução à soberania do povo cubano do território de Guatânamo, usurpado pelos Estados Unidos.

Igualmente, esta reunião pode constituir um estímulo à luta contra os remanescentes do colonialismo, sobretudo pela independência de Porto Rico, pela devolução das Ilhas Malvinas à soberania do povo argentino e pela independência do Saara Ocidental.
Senhoras e senhores o êxito desta cúpula mostrará que são as forças da guerra, das intervenções externas, da violação de direitos, da dominação imperialista e da hegemonia que estão isoladas no cenário internacional. Os povos e países soberanos serão os beneficiários dos sucessos alcançados aqui. E com isso se fortalecerão os esforços que todos fazemos pela paz.

Muito obrigada,

Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz

Ilha Margarita, Venezuela, 18 de setembro de 2016

 

Rolar para cima