Opinião
Em Israel, Tarcísio e Caiado cometem crime de traição nacional
Por se associarem ao genocídio, Tarcísio e Caiado merecem o repúdio não só das populações paulista e goiana, mas de todo o povo brasileiro, escreve o dirigente do PCdoB José Reinaldo Cavalho
Por José Reinaldo Carvalho (*) – Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), estão visitando o estado sionista israelense, autor de um dos mais hediondos genocídios de que se tem notícia na história, comparável apenas ao holocauso promovido por Hitler contra populações judaicas durante a vigência do regime nazista na Alemanha.
Os executivos estaduais foram ao centro mundial do reacionarismo, do genocídio e do massacre, onde se confraternizaram com os verdugos do povo palestino, brindaram apoio aos crimes de guerra dos sionistas e recolheram versões de uma narrativa criminosa para depois reproduzi-la aqui.
Emblematicamente visitaram o local onde a 7 de outubro do ano passado ocorreram os enfrentamentos entre combatentes do Hamas e soldados e milicianos sionistas. No roteiro do giro de Tarcísio e Caiado os anfitriões incluíram uma visita ao Museu do Holocausto, à indústria de aviação civil e militar e aos dirigentes e operadores dos centros de espionagem das forças de segurança israelenses que têm um imenso dossiê de crimes arquitetados e executados contra o povo palestino ao longo de 76 anos.
Os dois governadores direitistas se reuniram com os chefes de Estado e do governo sionistas – o presidente Isaac Herzog e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – e apertaram suas mãos tintas com o sangue palestino.
O ocupante do Palácio dos Bandeirantes respondeu com cinismo quando indagado sobre os objetivos da visita. Segundo ele, é sem ideologia e sem política e está relacionada apenas ao aprofundamento da parceria entre os governos de Brasil e Israel. Uma rematada mentira, se considerarmos que estamos vivendo o momento mais crítico dessas relações desde que o primeiro-ministro de Israel ofendeu a honra do presidente Lula e se incompatibilizou com o Estado nacional brasileiro. Enquanto Israel não se retratar, não há aprofundamento possível das relações bilaterais.
Durante o encontro com o presidente israelense, os governadores de Goiás e de São Paulo cometeram crime de traição nacional, ao atacaram o presidente Lula pela justa condenação que o líder brasileiro fez do genocídio. E sem que tenham autoridade para tanto, pediram desculpas em nome do Brasil ao presidente e ao povo israelense. Independentemente do enquadramento jurídico da declaração, refiro-me ao crime político que ela expressa. Os dois governadores se associaram à espúria campanha que o Estado pária de Israel está fazendo contra o Brasil e contribuem para enxovalhar a honra e o prestígio da nação, atitude que é inadmissível a uma autoridade constituída desde todos os pontos de vista, incluindo o ético.
Tarcísio e Caiado tomaram partido como cúmplices do genocídio. Em declarações à imprensa, destacaram que mantiveram conversações com as autoridades israelenses sobre o “rastro de destruição”, atribuindo-o às ações do Hamas. Contudo, desde 7 de outubro do ano passado, o que a humanidade vê é o rastro de destruição e assassinatos cometidos por Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, o que já motivou eloquentes resoluções na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança da ONU, que só não foram executadas em razão do veto dos Estados Unidos. O genocídio suscitou também um processo contra Israel em tramitação na Corte Penal Internacional.
No mesmo dia em que Tarcísio e Caiado confraternizavam com os genocidas de Tel Aviv, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, alertou o mundo para a ameaça de Israel usar a fome como um método de guerra na Faixa de Gaza, ao obstruir a entrada da assistência humanitária no território. O diplomata denunciou que a fome é iminente no norte de Gaza devido às limitações à ajuda humanitária. Uma catástrofe humanitária de fome generalizada pode ocorrer a qualquer momento entre os meses de março e maio, de acordo com um relatório da iniciativa Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) da ONU, publicado na última segunda-feira (18).
“O bloqueio de 16 anos de Israel a Gaza já teve um impacto severo sobre os direitos humanos da população civil, deixando a economia local devastada e criando uma dependência da ajuda. A extensão das restrições contínuas de Israel à entrada de ajuda em Gaza, juntamente com a maneira como continua a conduzir hostilidades, pode equivaler ao uso da fome como método de guerra, que é um crime de guerra”, disse Turk em um comunicado.
“A situação de fome, inanição e fome extrema é resultado das extensas restrições de Israel à entrada e distribuição de ajuda humanitária e bens comerciais, deslocação da maioria da população, bem como a destruição de infraestruturas civis cruciais”, ressalta a nota. Simultaneamente, divulgou-se que 27 crianças morreram em um hospital na Faixa de Gaza por desidratação causada por inanição.
A opinião pública brasileira aguarda ansiosa o relato e a condenação que Tarcísio e Caiado farão sobre tais ocorrências.
Enquanto isto não ocorrer, ambos merecem o repúdio não só das populações paulista e goiana, mas de todo o povo brasileiro.
(*) Jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB, onde coordena a área de Solidariedade Internacional e Paz. É presidente do Cebrapaz – Centro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz